O EFEITO GOSP

O EFEITO GOSP

Há cinco anos, experimentamos no meio maçônico brasileiro algo que vem sendo chamado de União da Maçonaria Regular brasileira. Nesse período, os conflitos entre potências simbólicas, daqueles que geravam rompimento de relações, proibição de visitação e similares, foi inibido ao máximo, com raras exceções.

Mas na Maçonaria brasileira, de tédio não morremos. Às vezes, tem-se ruídos envolvendo potência simbólica e ordens como DeMolay, Filhas de Jó, Garotas do Arco-Íris ou Estrela do Oriente. Vez ou outra, há problemas de potência simbólica com as chamadas “oficinas-chefe” de ritos. E ainda, esporadicamente, há desgastes entre uma potência e a confederação ou federação da qual faz parte. É certo, como 1+1=2, que em seu Estado já teve, tem ou terá um desses problemas.

Assim, fica claro que a união, de fato, da Maçonaria regular brasileira é igual pipoca no cinema: todo mundo quer, mas não é prioridade pra ninguém. Além disso, está mais do que comprovado que essa união surgiu em nível nacional, não de uma amizade fraterna e crescente entre as lideranças, mas de uma necessidade emergencial, que foi a separação entre GOSP e GOB. O fim da perseguição aos Grandes Orientes da COMAB, perpetrado entre 2014 e 2018, e a nova cláusula dos tratados firmados pelo GOB a partir de então, confirmam isso.

O problema é a visão de que o conflito GOB x GOSP é um problema dos outros, restrito apenas à Maçonaria Paulista. É como estar sentado numa ponta do barco vendo a outra ponta afundar e pensar que não tem nada com isso. Esse é um problema de toda a Maçonaria regular brasileira.

Por que? Simplesmente porque a Maçonaria é baseada em princípios, sendo que um dos principais é o direito à visitação. Sem poder usufruir desse direito, poucos são os maçons e lojas que suportam. Não por acaso, tem-se um histórico de que grande parcela de lojas e irmãos que aderem a uma cisão, retornam nos dois primeiros anos. O medo do isolamento sempre foi a âncora que freou muitas cisões ou trouxe muitos dissidentes de volta.

E isso também ocorreu com o GOSP: muitos irmãos e lojas retornaram ao seio do GOB, ou foram para a GLESP ou para o GOP. E entre os que ficaram, escuta-se reclamações da falta de fraternidade de lojas dessas outras potências, ao fecharem suas portas para eles. Até já se esqueceram de que, entre 2014 e 2018, enquanto ainda eram parte do GOB, algumas de suas lojas fechavam as portas aos irmãos do GOP. O mundo maçônico também dá voltas… É a lei da ação e reação: as lojas do GOSP que naquele período não se submeteram ao veto, que visitavam e recebiam visitas das lojas do GOP, provavelmente sofrem menos hoje do que aquelas que vestiram o perigoso avental da superioridade.  

O negócio é que o GOSP é grande e, mesmo com as perdas, continuou consideravelmente grande. Não se pode ignorar o fato de que São Paulo é o maior estado brasileiro em população, além de principal centro financeiro e corporativo do país. É difícil encontrar alguém que nunca foi a São Paulo, que não tenha um amigo ou parente lá, ou que não tenha que ir a São Paulo a trabalho.

Por isso, para as potências que surgem de novas cisões, a existência de um GOSP dissonante da Maçonaria Regular Brasileira rompe a corrente dessa âncora, derrubando a barreira de isolamento. Os descontentes de uma potência num estado qualquer, que pensariam três vezes antes de fazer uma cisão, por medo de ficarem isolados, já não têm mais esse medo. E essas “melhores condições” para dissidências têm apresentado seus primeiros resultados.

Enquanto GOB-SP, GLESP e GOP se uniram e se blindaram, fechando suas portas ao GOSP… o GOSP abriu uma janela. E essa janela é para fora de SP, onde se tem, em algumas localidades, uma frágil união e um terreno fértil para cisões, com um GOSP esperando para reconhecê-las. E assim, os não-reconhecidos passam a se reconhecerem, reduzindo aquela sensação de ostracismo em seus membros.

Sendo um efeito já experimentado em alguns estados, e que pode alcançar outros, deveríamos priorizar, pelo menos temporariamente, uma dieta da pipoca: os grandes players poderiam começar a pensar na possibilidade de conversar sobre o assunto.

Acha exagero? Nem na época em que não havia “união”, havia tanta cisão! Isso porque, quando as três vertentes não se davam tão bem, os dissidentes de uma simplesmente migravam para outra. Agora, com a “união”, portas foram fechadas, e criar uma nova potência, alinhada ao GOSP e o novo bloco que se forma a partir dele, parece algo mais fácil e menos traumático.

Então, a união leva à cisão??? A verdadeira união, não… mas quando criada pela razão errada, pode causar. Uma ponte construída, não para aproximar as partes, mas para que uma parte more embaixo dela, não é um meio de união, mas de divisão.

E é chato dizer, mas isso merece mais atenção do Brasil do que o Paraguai.

NOVA TIRAGEM – BÍBLIA – ED. MAÇÔNICA

NOVA TIRAGEM – BÍBLIA – ED. MAÇÔNICA

 

A editora No Esquadro fez via Catarse o financiamento coletivo para publicação da Bíblia Sagrada – Edição Maçônica, finalizada em agosto de 2022, e que foi um grande sucesso. Passados 18 meses, ainda há procura por exemplares que, infelizmente, estão esgotados há algum tempo.

Para atender a esses irmãos e lojas interessadas, estamos fazendo uma campanha para uma nova tiragem. Como será uma tiragem menor, a meta é menor e mais fácil de alcançar. A modalidade é “tudo-ou-nada”. Então, se a meta não for alcançada, o sistema devolve os valores aos participantes.  

Outro detalhe importante é que no projeto original nós não incluímos o frete, que foi acertado depois, fora do Catarse. Contudo, a experiência não foi positiva. Por esse motivo, as recompensas desta nova campanha já são com frete incluído para todo o Brasil.

Ficaremos imensamente felizes se pudermos contar com sua colaboração na divulgação deste projeto para uma nova tiragem da Bíblia. O link para divulgar e participar é:

catarse.me/biblia_maconica_reimpressao

10 ANOS DA “CIÊNCIA & MAÇONARIA”

10 ANOS DA “CIÊNCIA & MAÇONARIA”

Há 10 anos foi fundada a revista Ciência & Maçonaria, primeiro periódico acadêmico-científico dedicado à Maçonaria na América do Sul. De lá para cá, ela evoluiu, passou a constar em importantes diretórios e indexadores internacionais, foi vinculada ao NP3-CEAM-UnB, qualificada pela QualiCapes como B2, realizou um congresso nacional e um internacional e se consolidou como importante meio de repositório e divulgação do resultado de estudos e pesquisas sérias sobre a Maçonaria.

Nesses 10 anos, já foram computadas mais de 750 mil visualizações de seus artigos pelo site. E isso sem contar o compartilhamento dos artigos em PDF.  E isso graças às características que tornam a C&M uma revista única: 1) mesmo sem financiamento público ou privado, ela sempre foi, é e será de acesso livre e gratuito; 2) diferente de outros periódicos similares do exterior também dedicados à Maçonaria, a C&M é multidisciplinar; e 3) suas edições não são temáticas, resultantes de edital, mas de fluxo contínuo e permanente de submissão conforme seu foco e escopo.

Contudo, a C&M também enfrenta dificuldades. Enquanto o volume de submissões de artigos é relativamente alto, a maioria não alcança os requisitos básicos para publicação, nem respeita as diretrizes para autores. Por conta disso, sua edição, que era para ser semestral, tem sido publicada apenas anualmente, por não se alcançar a quantidade mínima de artigos aprovados em um semestre. Seus avaliadores e conselho editorial não abrem mão da qualidade por periodicidade.

E como não poderia ser diferente, a comemoração de 10 anos veio em forma de… revista! Acesse a nova edição da C&M, que brinda uma década de desafios superados e excelentes artigos publicados CLICANDO AQUI.

Lançado o livro MORAL E DOGMA

Lançado o livro MORAL E DOGMA

Moral e Dogma, o livro maçônico mais conhecido do mundo, do autor mais polêmico e mencionado pelos antimaçons, Albert Pike, acaba de ganhar uma tradução original e anotada, de Kennyo Ismail. São 896 páginas que mantiveram a mesma aparência da obra original, acompanhadas de quase MIL notas, revelando os seres mitológicos, filósofos, teólogos, personagens e instituições do passado, termos antigos em diferentes línguas e referências omitidas.

Enquanto Pike, já no prefácio, afirma que não se preocupou em distinguir o que é seu próprio do que tomou de outras fontes, algo ainda aceitável naquele século XIX, nesta edição brasileira elas foram identificadas e DISPONIBILIZADAS por meio de um QR Code, de modo que os irmãos, além de ler a obra-prima de Pike, poderão ler os livros que serviram de referência para ele.

E tudo isso numa publicação de qualidade primorosa, com capa dura gravada em hotstamp dourado.

Você pode adquirir seu exemplar de Moral e Dogma pelo link: https://noesquadro.com.br/loja/

SOBRE FATOS E TRATADOS

SOBRE FATOS E TRATADOS

 

Enquanto vivemos uma fase de relativa união, paz e concórdia na Maçonaria Regular brasileira, que proporcionou a unificação da Ordem DeMolay, a alavancagem de tratados nacionais e internacionais e a criação da conferência unindo suas três vertentes do Simbolismo; o mesmo não se vê em outros campos maçônicos.

O Supremo Conselho de São Cristóvão não tem perdido a oportunidade de ferir essa união. No último dia 13 de novembro, São Cristóvão publicou o Ato 22.732, em que sugere que o GOB punirá irmãos gobianos que buscarem filiação a outro Supremo Conselho do REAA. Para tanto, cita um artigo do Tratado de 1965, que São Cristóvão chama no referido Ato de “tratado em vigor”:

O Grande Oriente do Brasil excluirá de sua Jurisdição todo maçom que se filiar ou ingressar em qualquer Oficina escocesa de Altos Graus, estranha à Jurisdição do Supremo Conselho. Por sua vez, o Supremo Conselho procederá de igual modo em relação a qualquer irmão, que se filiar ou ingressar em Loja Simbólica fora da Jurisdição do Grande Oriente do Brasil, no território nacional.

Mas o GOB-RJ, em seu Boletim Oficial, Nº. 562, de 30 de novembro, fez o favor de publicar o fac-símile do verdadeiro “tratado em vigor”, o de 2007, cujo artigo traz a seguinte redação:

O SUPREMO CONSELHO excluirá de sua Jurisdição todo maçom, pertencente a Loja Simbólica do Rito Escocês Antigo e Aceito, federado ao GOB, que se filiar ou ingressar em qualquer Oficina Escocesa de Altos Graus, estranha à Jurisdição do Supremo Conselho. O Supremo Conselho procederá de igual modo em relação a qualquer Irmão que se filiar ou ingressar em Loja Simbólica, cuja Potência Simbólica, a que esteja subordinada, não possua tratado com o Grande Oriente do Brasil.

O Tratado de 2007, apresentado na íntegra pelo GOB-RJ, assinado pelo então GMG Laelso Rodrigues, pelo GOB, e Enyr de Jesus, por São Cristóvão, tem por título “Tratado Maçônico de Rerratificação”. No Direito, “rerratificação” é quando você firma um novo tratado ou contrato, retificando (corrigindo) alguns artigos e ratificando (confirmando) outros. Como podemos ver, esse é um dos artigos que o GOB corrigiu no tratado, não mais excluindo de seus quadros membros por ingressarem em outro Supremo Conselho do Rito Escocês Antigo e Aceito.

Desde 2007, pela nova redação do artigo, o que se torna possível é que São Cristóvão (e não o GOB) pode excluir membro de uma Loja Simbólica do REAA do GOB que estiver em outro Supremo Conselho. Mas excluirá do Supremo Conselho de São Cristóvão, e não do GOB. Isso porque o mesmo tratado reforça a soberania entre os corpos. Contudo, se o membro se desligou de São Cristóvão e já está em outro Supremo Conselho, tecnicamente, a exclusão de São Cristóvão não tem qualquer efeito prático. Serve apenas como uma tentativa de inibir um irmão de sair, pela possibilidade de posteriormente ter seu nome citado como “expulso” em um ato de São Cristóvão. Mas a exclusão de alguém que já não é mais membro somente serviria para responder por danos morais.

Outro detalhe interessante é que, conforme o artigo, o membro do GOB que se filiar a outro Supremo Conselho do REAA, somente será expulso do Supremo Conselho de São Cristóvão se sua loja simbólica for do REAA. Se ele for membro de uma loja de qualquer outro rito adotado pelo GOB, pela redação do tratado, São Cristóvão não poderá excluí-lo a posteriori do Supremo Conselho.

Desde o mês passado, alguns irmãos gobianos têm relatado sofrer pressões e ameaças de exclusão do GOB com base nesse Ato 22.732 de São Cristóvão. Entretanto, com base no Tratado de 2007, isso é impossível, e qualquer tratado anterior ao de 2007 não tem efeito.

Nenhum irmão deveria ser perseguido por buscar pertencer a um Supremo Conselho regular e reconhecido internacionalmente, neste caso, o de Jacarepaguá. E, sinceramente, duvido que o GOB, tão legalista, cometeria tal abuso, propositalmente excluído no Tratado de 2007, que é o que está em vigor. Com as 27 Grandes Lojas e a maioria dos Grandes Orientes da COMAB reconhecendo Jacarepaguá, não há porque o GOB, importante baluarte da união da Maçonaria Regular brasileira, cometer abusos e ilegalidades apenas para saciar o desejo inquisidor de uma única autoridade de São Cristóvão.

O Ato 22.732 de São Cristóvão, baseado exclusivamente em um artigo expirado, está inquinado de vício de legalidade, sendo, portanto, nulo. Ele não passa de um blefe. Só que, neste caso, as cartas estão à mostra… Cai no blefe quem quer.