Foi notícia maçônica e não-maçônica a investidura de Mourão, Vice-Presidente da República, ao 33º grau do Rito Escocês Antigo e Aceito, pelo Supremo Conselho de Jacarepaguá (SC33), único no Brasil reconhecido mundialmente.

Mourão, Mestre Maçom (3º grau) regular no Grande Oriente do Rio Grande do Sul (COMAB), foi avançado do 4º ao 32º graus em uma tarde de sábado, na Grande Inspetoria Litúrgica do Distrito Federal, e alguns dias depois foi investido no 33º grau em evento ocorrido em Ijuí – RS, conduzido pelo SC33. Assim, galgou os 30 altos graus do Rito Escocês em menos de um mês, o que, observando os interstícios regulamentares, levaria, pelo menos, seis anos.

A quebra dos interstícios foi concedida pelo Soberano Grande Comendador, Irmão Jorge Lins, utilizando-se de prerrogativa estatutária existente há mais de uma centena de anos. Tal notícia gerou uma série de manifestações de irmãos, em especial em redes sociais, criticando a decisão do Soberano Grande Comendador em permitir tal quebra de interstício, mesmo que legalmente embasada.

Muitas manifestações repetem, em outras palavras, os mesmos argumentos. Segue trechos de alguns comentários reais: “não me foi dada nenhuma ajudinha para chegar onde cheguei”, “desvalorização de quem está nas fileiras há anos cumprindo todas as exigências para alcançar o grau máximo”, “luz demais, para quem não está preparado, pode cegar”, “nossa turma tem mais de 5 anos e só agora chegou ao 32 e vai passar pelo menos um ano para chegar ao 33 e já teve irmão que chegou ao 33 em uma semana”, “todos iguais… mas nem tanto”, “injusto com o maçom médio”, etc.

Credita-se a Freud uma frase que diz “Quando Pedro me fala de Paulo, sei mais de Pedro do que de Paulo”. Ao falarem da escalada maçônica de Mourão, os irmãos revelam algo sobre si mesmos: a dissonância cognitiva.

A dissonância cognitiva, em um de seus diferentes espectros, consiste naquela sensação de desconforto que tem-se pelo fato de alguém ter aparentemente sido mais beneficiado com menor ou igual esforço ao seu.

Um exemplo claro é a famosa parábola bíblica da vinha: Um senhor busca trabalhadores para sua vinha em diferentes horários do dia, combinando que pagaria um denário pelo serviço. Assim, uns trabalham o dia inteiro e outros menos, até aqueles que trabalharam apenas 01 hora… e ao final do dia, o senhor pede que todos formem uma fila para receberem seus pagamentos, começando pelos que chegaram por último. Quando os que chegaram primeiro e trabalharam o dia inteiro (ao final da fila) viram que os que chegaram por último e trabalharam apenas uma hora (no início da fila) estavam recebendo um denário, julgaram que receberiam mais do que isso, por terem trabalhado muito mais. Entretanto, receberam o mesmo valor e ficaram indignados com o senhor, que argumentou que havia combinado o valor com eles antes do serviço, e eles tinham aceitado.

Aqueles trabalhadores da primeira hora haviam ficado deveras satisfeitos em conseguir um serviço que lhes garantisse um pagamento ao qual concordaram antecipadamente. Mas eles não demoraram a irritar-se e questionar o acordado com o senhor ao perceberem que outros haviam feito acordo aparentemente melhor. É o mesmo comportamento de uma criança que chora porque a bola de sorvete de seu irmão aparenta ser maior que a sua. Ou de uma mulher que se irrita ao ver em uma vitrine que aquele vestido que ela comprou na semana anterior, achando que tinha feito um ótimo negócio, está ainda mais barato (e foi comprado mais barato por outra mulher). Esse sentimento vil é comum a muitos homens, até mesmo maçons.

Os reclamantes, adeptos dos Altos Graus, têm conhecimento da legalidade da decisão e nenhum deles foi prejudicado ou mesmo afetado pela mesma. Eles não sofreram atrasos na evolução dos graus ou foram sobretaxados por isso. Ainda, não se vê reclamações dos mesmos quanto aos interstícios que eles seguem e as taxas que eles pagam, até porque concordaram com essas questões antes de ingressar. O que incomoda é que aquele outro, que chegou “na undécima hora” foi feito igual a eles, que suportaram o peso dos interstícios e o calor das taxas. Mesmo quando o “outro” é o Vice-Presidente da República. Mesmo quando sua projeção maçônica pode auxiliar na imagem da Maçonaria perante a sociedade.

Não importa se a grama do vizinho é mais verde. Ela é do vizinho, não sua. Não seja mesquinho. Não compare. Cuide de sua vida e faça o seu melhor, sempre. Se você está cursando os Altos Graus, já deveria ter aprendido isso.