por Kennyo Ismail | out 27, 2014 | Conceitos
Em 2010, por iniciativa do então Grão-Mestre, Fraçois Stifani, a Grande Loja Nacional Francesa publicou carta aberta em apoio a Nicolas Sarkozy, presidente da França. Durante os anos de 2011 e 2012, todas as importantes Grandes Lojas da Europa e da América do Norte, além de várias em outras partes do mundo, retiraram o reconhecimento da Grande Loja Nacional Francesa por desrespeitar o princípio básico da Maçonaria de que “um maçom na sua qualidade maçônica não faz nenhum comentário sobre política, ou que possa ser interpretado como se aliasse sua Grande Loja com um determinado partido político ou facção”. Muito menos um Grão-Mestre.
O reestabelecimento do reconhecimento da GLNF só ocorreu em Junho deste ano de 2014, apenas após eleito um novo Grão-Mestre e a adoção de ações internas que garantissem que o episódio não mais ocorrerá.
No entanto, somente 04 meses depois, parece que há irmãos brasileiros que não conseguiram aprender com os erros da GLNF. Talvez por desconhecer tais fatos ou mesmo tal princípio básico da Maçonaria. Quanto ao princípio, maçom algum pode declarar desconhecê-lo, visto que na Ordem só ingressa homens alfabetizados e em plenas condições de aprendizagem das leis, regras, cerimônias e instruções maçônicas.
Fato é que, em 1938, a Grande Loja Unida da Inglaterra publicou, em conjunto com as Grandes Lojas da Escócia e da Irlanda, “The Aims and Relations of the Craft”, uma declaração dos princípios fundamentais que serve de base para todas as Grandes Lojas regulares do mundo. O item 6 dessa declaração registra claramente tal proibição ao afirmar que:
“Enquanto a Maçonaria inculca em cada um dos seus membros os deveres de lealdade e de cidadania, reserva-se ao indivíduo o direito de ter sua própria opinião em relação a assuntos políticos. Entretanto, nem em uma Loja, nem a qualquer momento em sua qualidade de maçom, lhe é permitido discutir ou fazer promover seus pontos de vista sobre questões teológicas ou políticas”.
A razão de tal proibição é notória e muito bem registrada na literatura maçônica. Sendo a Maçonaria uma ordem universal, que abraça membros de diferentes religiões e convicções políticas, defensora perpétua das liberdades civil, religiosa, política e intelectual, nunca poderia ou poderá, como instituição, imprimir preferências políticas ou religiosas, por risco de desrespeitar as convicções de seus próprios membros, independente se maioria ou minoria, causando assim desarmonia entre maçons ou Lojas.
Passado o período eleitoral, que a lição seja aprendida, correções de curso sejam feitas, erros sejam corrigidos, e, principalmente, que nas próximas eleições eles não sejam repetidos.
por Kennyo Ismail | ago 8, 2014 | Conceitos
Entre os vinte e cinco landmarks de Mackey, um impede o ingresso de deficientes físicos:
XVIII – Por este Landmark os candidatos à Iniciação devem ser isentos de defeitos ou mutilações, livres de nascimento e maiores. Uma mulher, um aleijado ou um escravo não podem ingressar na Fraternidade (GLMDF, 2008).
Por conta dessa “antiga regra”, provavelmente herdada dos maçons operativos, a questão do ingresso de deficientes físicos na Maçonaria brasileira tem sido um tabu.
Para saber mais, CLIQUE AQUI.
por Kennyo Ismail | abr 3, 2014 | Conceitos
Em Outubro deste ano teremos eleições no Brasil, com o período de campanha iniciando em Julho. Isso significa que, de Julho a Outubro, sofreremos os benefícios e mazelas proporcionados pelo sistema democrático, quando o debate de ideias e projetos lutará a injusta batalha contra a avalanche de poluição sonora e visual.
Não vamos voltar aqui à discussão da Maçonaria enquanto precursora da democracia moderna, assunto esse exposto em outro estudo. A intenção deste texto é chamar a atenção do maçom para a tendência comportamental em redes sociais durante esse período versus a devida postura maçônica.
Pela proximidade do período de campanha eleitoral, já temos presenciado um aumento no volume de publicações nas redes sociais relativas ao tema, especialmente críticas. Porém, ao contrário do que gostaríamos, tais publicações em geral não partem do princípio da crítica fundamentada sobre programas e propostas políticas, e sim vis ofensas diretas a lideranças políticas, muitas delas atuais autoridades legitimamente constituídas.
Quando se aborda tal questão junto aos “ofensores”, a primeira resposta que se recebe é quanto a famosa “liberdade de expressão” que, teoricamente, lhes daria o direito de ofender pessoas que eles mal conhecem. Entretanto, esse tópico é assunto amplamente discutido e, de certa forma, já esgotado no seio do Direito brasileiro, cuja lei maior “conferiu significado especial aos direitos de personalidade, consagrando o princípio da dignidade humana como postulado essencial da ordem constitucional, estabelecendo a inviolabilidade do direito à honra e à privacidade e fixando que a liberdade de expressão e de informação haveria de observar o disposto na Constituição, especialmente o estabelecido no Art. 5º, X.”[1]
Porém, o que vemos são pessoas publicando fotos de políticos e, em vez de criticar alguma decisão, afirmação ou atitude desses, proferem ofensas pessoais, xingamentos, difamam e caluniam. E o que mais assusta é que muitos dos autores são… maçons. Irmãos que, entre uma ofensa e outra, publicam conteúdo maçônico falando de fraternidade entre os homens e levantar templos às virtudes. No mínimo, uma incoerência.
Não precisamos aqui explicitar que, em muitos casos, tais atos podem ser enquadrados como infrações maçônicas. O objetivo aqui é tratar da conduta maçônica, provavelmente respeitada no meio maçônico, mas aparentemente negligenciada no mundo profano, mais especificamente em redes sociais. Como exemplo do que estamos falando, outro dia me espantei com uma publicação de um irmão em rede social, cuja identidade será mantida em sigilo. Era uma foto da Presidente da República, cujo texto que a acompanhava era “ANTA!”. Independente da orientação política do irmão, a injúria proferia era desnecessária e inaceitável. Trata-se de uma mãe e avó de família e líder legitimamente eleita do país. O referido irmão, além de maçom, é Sênior DeMolay e militar. Como DeMolay, faltou com seu juramento ao desrespeitar uma mulher. Como militar, cometeu falta grave contra a Comandante em Chefe. E como maçom, faltou com decoro, não combateu suas paixões, desrespeitando as leis do país, sendo intolerante e esquecendo-se da moral maçônica. Obviamente que ninguém é obrigado a gostar do Presidente da República em exercício, mas todos temos o dever de respeitar uns aos outros, em especial quando se trata de um ser humano e uma autoridade que foi eleita pelo povo em um processo democrático.
Importante ressaltar que o período eleitoral oficialmente ainda não começou e, infelizmente, a tendência é apenas piorar. Por isso, conclamamos todos os maçons a se autopoliciarem nesse período, em especial nas redes sociais, de forma a não expor a Maçonaria ao ridículo.
[1] MENDES, Gilmar Ferreira. Colisão de Direitos Fundamentais: liberdade de expressão e de comunicação e direito à honra e à imagem. Revista de Informação Legislativa. Brasília, V. 31, No. 122, 1994, p. 297-301.
por Kennyo Ismail | maio 20, 2013 | Conceitos
Compreender a Maçonaria não é matéria simples, mas com certeza é algo interessante. Como bem registrou o historiador britânico John Morris Roberts, certamente há algo de relevante em uma instituição cujos Grão-Mestres ingleses têm sido sempre nobres, incluindo sete príncipes herdeiros do trono, enquanto que em outras regiões e momentos a Maçonaria foi perseguida pelos nazistas, condenada por Bulas Papais e denunciada pelo Comintern, o comitê comunista internacional.
Mas para compreender a razão dessa instituição estar, durante séculos, atraindo os mais distintos homens, deve-se, primeiramente, compreender o que ela realmente é. No entanto, há diversas e distintas definições da Maçonaria, não havendo uma que seja oficial da instituição ou mesmo que descreva satisfatoriamente o que realmente a Maçonaria é.
A definição mais comum de Maçonaria em uso em todo o mundo é a de que Maçonaria é “um belo sistema de moralidade velado em alegoria e ilustrado por símbolos”. Essa definição é derivada de outra, de autoria de William Preston, que considera a Maçonaria “um sistema regular de moralidade, concebido em uma tensão de interessantes alegorias, que desdobra suas belezas ao requerente sincero e trabalhador”. Porém, o que essas definições não explicitam é: Quais seus princípios fundamentais? Seus propósitos? Sua razão de existir?
por Kennyo Ismail | mar 5, 2013 | Conceitos
Alguns intelectuais maçons tem apregoado a necessidade da Maçonaria Brasileira tornar a ser uma “elite estratégica” do país. Infelizmente, essa ideia tem sido atualmente abraçada por líderes e candidatos a líderes da instituição, sem muita ou qualquer reflexão sobre o que isso significa.
Mas o que diabos é uma “elite estratégica”? Trata-se de uma minoria dominante, a qual se considera superior hierarquicamente ao restante da sociedade, e que tem a pretensão de definir o futuro do país. Só isso. Legal né? Só se for para o Darth Vader.
O conceito de elite estratégica tem por raiz a Teoria das Elites, cujos pensadores pioneiros foram Gaetano Mosca e Vilfredo Pareto. Porém, antes deles, Maquiavel, Montesquieu, Marx e outros já haviam alertado para esse fenômeno de minorias governantes. No caso da elite estratégica, o grupo minoritário exerce seu poder influenciando política, econômica e intelectualmente tanto o governo quanto a sociedade. Pretensiosos, não?
O termo “elite estratégica” caiu nas graças dos milicos durante a Ditadura Militar, passando o alto escalão das Forças Armadas a se autodeclarar a elite estratégica do país, posição essa mantida por meio de métodos arbitrários e violentos contra seus opositores, como os pensadores da Teoria das Elites já haviam previsto. A velha-guarda intelectual da Maçonaria Brasileira, educada nessa época, parece não apenas ter aprendido o termo como também almejar ser considerado como pertencente de tal.
Entretanto, os desejosos de tal posição para a Ordem Maçônica parecem ter esquecido apenas de um pequeno detalhe: o conceito de elite estratégica é contrário aos princípios maçônicos de igualdade e de emancipação do homem por meio da razão, além de ser incoerente com o consenso mundial de democratização da informação, democratização do conhecimento, democratização da comunicação, democratização do ensino, gestão participativa e tantos outros conceitos cujo objetivo em comum é o de dar à maioria condições e espaço para participarem das decisões que, infelizmente, hoje se concentram nas mãos da minoria, da “elite”.
O mais irônico de tudo isso é que os sonhadores da Maçonaria Brasileira como elite estratégica costumam declarar em seus discursos defender “ideais iluministas”. Talvez seja necessário recapitular qual era o principal ideal iluminista para melhor compreender tamanha ironia. A ideia central do movimento iluminista era a de que a razão, e não a fé ou a tradição, deveria constituir o principal guia para a conduta humana. Dessa forma, por meio da razão, o homem poderia se libertar das amarras da ignorância, da tirania e do fanatismo, e não mais precisar se sujeitar à opressão das elites. Assim sendo, desejar a existência de uma elite estratégica enquanto se fala em ideais iluministas é como defender a necessidade de uma ditadura enquanto se declara ser um democrata. Em outras palavras, uma total incoerência de discurso.
Por fim, sem o risco de exageros, desejar ser membro de uma elite estratégica é quase a mesma coisa que desejar ser dono de escravos. A diferença é que na escravatura convencional o escravo sabe que é escravo e o dono não esconde o chicote. Já a elite estratégica é covarde, é “eminência parda”. E agora, depois da Maçonaria em todo o Continente Americano ter lutado, entre o final do Século XVIII e o do XIX, pela igualdade entre os homens e pela independência de seus países, para então poder deixar de ser elite e se juntar às massas, atualmente também compostas por homens pensantes, eis que surgem aqueles ávidos por retroceder no tempo e na evolução que houve com o mesmo. Parecem preferir uma Maçonaria Brasileira feita por 100 membros influentes da classe alta, do que por 200.000 membros livres e de bons costumes de todas as classes, ignorando completamente o fato de que a Maçonaria existe para servir a sociedade, e não a sociedade para servir a Maçonaria. E o que a sociedade brasileira parece querer hoje é uma Maçonaria solidária, que realmente procure colaborar com a felicidade da humanidade, estendendo a mão ao próximo e reduzindo o sofrimento dos enfermos e menos afortunados. Não um grupo de “elite”, mas um grupo de “iguais”, organizados e engajados nessa nobre causa.
por Kennyo Ismail | jan 22, 2013 | Conceitos
Voluntário, conforme o dicionário [1], é aquele “que faz parte de uma corporação por mera vontade e sem interesse” e “que faz de boa vontade e sem constrangimento”. Essa definição, ao qualificar a ação voluntária como “sem interesse”, esbarra no debate filosófico da impossibilidade de ausência de interesse. O altruísmo, termo criado por Augusto Comte, seria esse ato de ajudar alguém sem ter qualquer interesse individual envolvido, apenas por pura bondade. Nesse sentido, muitos filósofos têm defendido que não existe ato genuinamente altruísta, totalmente desinteressado. Para ilustrar esse entendimento, se você acredita que atos de bondade, de caridade, que boas ações colaboram para sua evolução moral e/ou espiritual, então qualquer ato seu não será 100% altruísta, pois você tem um interesse pessoal, mesmo que mínimo, de evoluir com isso. Até mesmo se não esperar tal evolução, mas se você se sente bem em ajudar o próximo, sua ação não será totalmente desinteressada, pois você, em algum nível, sente prazer em ajudar, se beneficiando de alguma forma com isso. Nesse sentido, não existe ato voluntário sem interesse.
Já a ONU [2] fornece uma definição condizente com tal entendimento, ao declarar que voluntário é “o jovem, adulto ou idoso que, devido a seu interesse pessoal e seu espírito cívico, dedica parte do seu tempo, sem remuneração, a diversas formas de atividades de bem estar social ou outros campos”. Nesse caso, vê-se claramente que a ação voluntária parte de um interesse pessoal, mesmo que motivado pelo civismo.
A Maçonaria é uma oportunidade de trabalho voluntário, tendo nos maçons seus voluntários. A definição mais comum de Maçonaria em uso em todo o mundo é a de que Maçonaria é “um belo sistema de moralidade velado em alegoria e ilustrado por símbolos” [3] [4]. Essa definição é derivada de outra, de autoria de William Preston [5], que considera a Maçonaria “um sistema regular de moralidade, concebido em uma tensão de interessantes alegorias, que desdobra suas belezas ao requerente sincero e trabalhador”. Dessa forma, deve o maçom, logicamente, estar interessado em evoluir moralmente para ser voluntário em um “sistema regular de moralidade”. Tais definições também indicam que o trabalho voluntário do maçom corresponde a atividades e práticas relacionadas a “alegorias e símbolos”, ou seja, a aprendizagem e execução do ritual, que é a ferramenta de ensino que contém as diversas alegorias e símbolos maçônicos.
Mas, como todo trabalho voluntário, Maçonaria é um trabalho “sem remuneração”, cujas atividades são realizadas por livre e espontânea vontade. Não se ganha na Maçonaria, se gasta. Você investe, além de seu tempo como voluntário, recursos financeiros para manter a estrutura de sua Loja e Obediência. Por esse motivo, mais do que qualquer outro trabalho voluntário, o maçom deve estar realmente ciente do cunho moral da organização, interessado em tal aspecto, e realizar suas atividades a contento. Em outras palavras, precisa estar 100% comprometido. Assim como não existe um “mais ou menos” médico sem fronteiras, não dá pra ser “meio” maçom.
E o que é ser um maçom, esse voluntário da Maçonaria? É estudar o ritual, não apenas executando-o da melhor forma possível, mas principalmente o compreendendo. É participar ativamente das reuniões, contribuindo com suas ideias e opiniões. É se oferecer para ajudar nas diversas atividades em grupo, ou mesmo para realizar algumas atividades individuais dentro de suas competências, como ministrar uma palestra, criar um website, pintar uma parede ou trocar uma simples lâmpada. É ter ciência de que, sendo um trabalho voluntário, você não depende dele para sua sobrevivência e sustento de sua família, devendo, portanto, ir para a Maçonaria e permanecer nela somente se estiver realmente interessado. E cada vez que comparecer, faça valer à pena, porque apenas assistir e criticar não pode ser considerado trabalho voluntário… é necessário colaborar.
NOTAS:
[1] PRIBERAM. Dicionário Priberam da Língua Portuguesa. Acesso em: 22 de janeiro de 2013. Disponível em: http://www.priberam.pt/dlpo/default.aspx?pal=voluntário
[2] UNIC. United Nations Information Centre Rio de Janeiro. Acesso em: 22 de janeiro de 2013. Disponível em: http://unic.un.org/imucms/rio-de-janeiro/64/158/voluntariado.aspx
[3] GUNN, J.: Death by Publicity: U. S. Freemasonry and the Public Drama of Secrecy. Rhetoric & Public Affairs, Vol. 11, No. 2, pp. 243-277, 2008.
[4] ZELDIS, Leon. Illustrated by Symbols (New York, NY: Philalethes, The Journal of Masonic Research & Letters, Vol. 64, No. 02, 2011), p. 72-73.
[5] PRESTON, William. Illustrations of Masonry. New York: Masonic Publishing and Manufacturing Co., 1867.