Há cinco anos, experimentamos no meio maçônico brasileiro algo que vem sendo chamado de União da Maçonaria Regular brasileira. Nesse período, os conflitos entre potências simbólicas, daqueles que geravam rompimento de relações, proibição de visitação e similares, foi inibido ao máximo, com raras exceções.
Mas na Maçonaria brasileira, de tédio não morremos. Às vezes, tem-se ruídos envolvendo potência simbólica e ordens como DeMolay, Filhas de Jó, Garotas do Arco-Íris ou Estrela do Oriente. Vez ou outra, há problemas de potência simbólica com as chamadas “oficinas-chefe” de ritos. E ainda, esporadicamente, há desgastes entre uma potência e a confederação ou federação da qual faz parte. É certo, como 1+1=2, que em seu Estado já teve, tem ou terá um desses problemas.
Assim, fica claro que a união, de fato, da Maçonaria regular brasileira é igual pipoca no cinema: todo mundo quer, mas não é prioridade pra ninguém. Além disso, está mais do que comprovado que essa união surgiu em nível nacional, não de uma amizade fraterna e crescente entre as lideranças, mas de uma necessidade emergencial, que foi a separação entre GOSP e GOB. O fim da perseguição aos Grandes Orientes da COMAB, perpetrado entre 2014 e 2018, e a nova cláusula dos tratados firmados pelo GOB a partir de então, confirmam isso.
O problema é a visão de que o conflito GOB x GOSP é um problema dos outros, restrito apenas à Maçonaria Paulista. É como estar sentado numa ponta do barco vendo a outra ponta afundar e pensar que não tem nada com isso. Esse é um problema de toda a Maçonaria regular brasileira.
Por que? Simplesmente porque a Maçonaria é baseada em princípios, sendo que um dos principais é o direito à visitação. Sem poder usufruir desse direito, poucos são os maçons e lojas que suportam. Não por acaso, tem-se um histórico de que grande parcela de lojas e irmãos que aderem a uma cisão, retornam nos dois primeiros anos. O medo do isolamento sempre foi a âncora que freou muitas cisões ou trouxe muitos dissidentes de volta.
E isso também ocorreu com o GOSP: muitos irmãos e lojas retornaram ao seio do GOB, ou foram para a GLESP ou para o GOP. E entre os que ficaram, escuta-se reclamações da falta de fraternidade de lojas dessas outras potências, ao fecharem suas portas para eles. Até já se esqueceram de que, entre 2014 e 2018, enquanto ainda eram parte do GOB, algumas de suas lojas fechavam as portas aos irmãos do GOP. O mundo maçônico também dá voltas… É a lei da ação e reação: as lojas do GOSP que naquele período não se submeteram ao veto, que visitavam e recebiam visitas das lojas do GOP, provavelmente sofrem menos hoje do que aquelas que vestiram o perigoso avental da superioridade.
O negócio é que o GOSP é grande e, mesmo com as perdas, continuou consideravelmente grande. Não se pode ignorar o fato de que São Paulo é o maior estado brasileiro em população, além de principal centro financeiro e corporativo do país. É difícil encontrar alguém que nunca foi a São Paulo, que não tenha um amigo ou parente lá, ou que não tenha que ir a São Paulo a trabalho.
Por isso, para as potências que surgem de novas cisões, a existência de um GOSP dissonante da Maçonaria Regular Brasileira rompe a corrente dessa âncora, derrubando a barreira de isolamento. Os descontentes de uma potência num estado qualquer, que pensariam três vezes antes de fazer uma cisão, por medo de ficarem isolados, já não têm mais esse medo. E essas “melhores condições” para dissidências têm apresentado seus primeiros resultados.
Enquanto GOB-SP, GLESP e GOP se uniram e se blindaram, fechando suas portas ao GOSP… o GOSP abriu uma janela. E essa janela é para fora de SP, onde se tem, em algumas localidades, uma frágil união e um terreno fértil para cisões, com um GOSP esperando para reconhecê-las. E assim, os não-reconhecidos passam a se reconhecerem, reduzindo aquela sensação de ostracismo em seus membros.
Sendo um efeito já experimentado em alguns estados, e que pode alcançar outros, deveríamos priorizar, pelo menos temporariamente, uma dieta da pipoca: os grandes players poderiam começar a pensar na possibilidade de conversar sobre o assunto.
Acha exagero? Nem na época em que não havia “união”, havia tanta cisão! Isso porque, quando as três vertentes não se davam tão bem, os dissidentes de uma simplesmente migravam para outra. Agora, com a “união”, portas foram fechadas, e criar uma nova potência, alinhada ao GOSP e o novo bloco que se forma a partir dele, parece algo mais fácil e menos traumático.
Então, a união leva à cisão??? A verdadeira união, não… mas quando criada pela razão errada, pode causar. Uma ponte construída, não para aproximar as partes, mas para que uma parte more embaixo dela, não é um meio de união, mas de divisão.
E é chato dizer, mas isso merece mais atenção do Brasil do que o Paraguai.
Todos nós, maçons, sabemos que a Maçonaria tem, como um de seus princípios, o respeito às leis, não apenas maçônicas, mas principalmente aquelas em vigor em um país livre. Inclusive, no Brasil, o respeito à Constituição está na moda, tendo virado até jargão.
Pois bem, a Constituição brasileira, já em seu 5º artigo, XXVII, traz que “aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, publicação ou reprodução de suas obras”.
Há oito anos venho abordando, em um momento ou outro, o CRIME do plágio, que, infelizmente, continua sendo um problema recorrente no meio maçônico brasileiro. Mas hoje, venho fazer um alerta de outro CRIME relacionado a direito autoral, que está em pleno crescimento em nosso meio.
Está previsto na Lei nº 9.610/98 e no Art. 184 do Código Penal, o CRIME de reprodução e/ou distribuição de obra intelectual, seja em meio impresso ou digital, sem autorização prévia do autor. E esse crime é praticado diariamente, em grupos maçônicos de WhatsApp, em que se compartilha PDFs de livros que não estão em domínio público. Inclusive, pasmem, há grupos dedicados exclusivamente a isso.
A que ponto chegamos?!? Irmão roubando de irmão, com conivência e cumplicidade de outros irmãos! Já não bastasse alguns roubarem a obra intelectual, ao omitir o verdadeiro autor e a apresentar como se fosse sua… agora querem roubar até a baixíssima remuneração do autor e outros profissionais sobre cada livro, impresso ou ebook???
São centenas de horas de trabalho para nascer um livro, entre leitura, pesquisa, escrita e revisão. E outras dezenas de horas de diagramação, ilustração, edição e publicação. Após todo o trabalho do autor, há vários profissionais envolvidos, como ilustrador de capa, revisores, diagramador e, no caso de livro impresso, todos os funcionários da gráfica. E você, se achando o esperto por não precisar pagar menos de 25 reais em um ebook, está, na verdade, roubando de todos eles! Um maçom ladrão!
Somente nos últimos 15 dias, tive ciência de dois casos de plágio e de três casos de pirataria digital (compartilhamento ilegal de livro em PDF), envolvendo obras minhas. Por sorte, os casos de plágio foram retirados do ar, e os infratores que compartilharam o arquivo digital do livro, ao serem alertados, se deletaram os arquivos dos grupos. Contudo, nos casos em que não conseguir resolver com brevidade e fraternidade, informo que os modelos de denúncia maçônica estão prontos para serem usados, não descartando processos na justiça comum, para garantir que nossos direitos e as leis sejam respeitados.
E, se um dia a editora No Esquadro ou a tradicional editora A Trolha vierem a fechar suas portas, saiba que você, o “esperto” que compartilhou ou recebeu um PDF de um de seus livros, foi o culpado por prejudicar, não apenas autores, profissionais e editoras, mas dezenas de milhares de irmãos leitores.
Estamos acompanhando o atual problema de relacionamento entre GOB-MG e GOB, problema este que se arrasta desde a época de Amintas e Eduardo Rezende. Este problema vem concomitante a outro, entre o GOB-BA (GOEB) e o GOB, que também vem sendo remoído desde junho de 2019. Ainda, tivemos o conturbado caso do GOSP, eclodido em setembro de 2018.
Além de São Paulo, Minas Gerais e Bahia, que estão entre os maiores estados maçônicos em número de membros e lojas, acumula-se outros casos de conflitos e intervenções em Grandes Orientes Estaduais, como em Pernambuco, Ceará, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Goiás, etc.
Todos esses casos têm gerado instabilidade, não apenas no seio do GOB, mas também no meio maçônico regular brasileiro, visto que, em alguns casos, as outras potências regulares locais, Grandes Lojas da CMSB e Grandes Orientes da COMAB, precisam se posicionar quanto a intervisitação, etc.
E ao observarmos a história da Maçonaria brasileira, em especial do Grande Oriente do Brasil, vemos que não se trata apenas de casos recentes e isolados. O fato é que, desde que se implementou o atual sistema de Grandes Orientes Estaduais, o GOB enfrenta esse tipo de problema.
Como exemplo, tem-se a manifestação em conjunto de seis Grandes Orientes Estaduais, em 1962, reivindicando um novo “pacto federativo”, em que se concederia soberania aos mesmos. Os desdobramentos dessa reivindicação, aliados a um processo eleitoral conturbado, levariam à cisão de 1973. E essa espécie de reclamação não ressurge periodicamente… é permanente. Só que nem sempre é alta o bastante para ser escutada.
O fato é que o GOB é uma federação, mas adotou uma característica que não é inerente a uma federação maçônica, o que, aparentemente, tem gerado mais de meio século de conflitos internos, que vivem a abalar seu pacto federativo.
Há algumas outras federações maçônicas mundo afora. Um exemplo clássico é a Grande Loja Unida da Inglaterra – GLUI. Ela possui uma série de Grandes Lojas Provinciais e Grandes Lojas Distritais, que devem obediência à GLUI. Sabe qual a diferença dessas Grandes Lojas Distritais e Provinciais para os Grandes Orientes Estaduais do GOB? Seus Grão-Mestres são nomeados, não eleitos.
Uma Grande Loja Distrital nada mais é do que um Distrito ou Delegacia Maçônica, com uma espécie de Delegado nomeado para administrá-la. E, em verdade, um Grande Oriente Estadual do GOB não deixa de ser exatamente isso, pois não emite placets e cartas constitutivas, nem pode firmar tratados com outras potências, dentre outras limitações.
Praticamente todos os conflitos entre os Grandes Orientes Estaduais e o GOB giram em torno do fato do GOB intervir em um Grão-Mestre Estadual que foi eleito pelo povo maçônico gobiano daquele Estado.
Um Grão-Mestre Estadual do GOB fez campanha, rodou a jurisdição, visitou dezenas de lojas, tornou-se uma liderança e foi eleito e empossado no cargo. Quando ocorre uma intervenção, o próprio termo, “intervenção”, acentua a gravidade do que é feito, pois é uma violação, mesmo que legal, em uma organização. A vontade daquele povo maçônico, de certa forma, é atropelada.
E é nessas horas de intervenção que aquelas dúvidas retomam “com plena força e vigor”: da razão dele ser um “Grão-Mestre” e não ter a autoridade que os Landmarks tradicionalmente adotados no Brasil concedem a um Grão-Mestre; da falta de autonomia, independência e soberania do Grande Oriente Estadual; da vontade de milhares de irmãos do povo maçônico local estar abaixo da vontade de uma única autoridade maçônica do Poder Central; etc. E então os desejos separatistas de alguns saem das sombras para sussurrar aos ouvidos daqueles mais e menos revoltosos.
Entretanto, todo esse processo conturbado de intervenção, cisão, judicialização, é fruto do modelo organizacional adotado e, simplesmente, não precisaria acontecer se fosse adotado outro modelo. Um CNPJ Filial não se desliga da Matriz. E um Grão-Mestre Estadual nomeado não faz campanha, não é necessariamente uma liderança, não quer ter seus poderes igualados aos dos outros Grão-Mestres do Estado, não aspira soberania, e não sofre uma traumática intervenção. No máximo, uma simples exoneração.
Quer ser, de fato, uma federação? A sugestão é que crie 27 CNPJs de Filial para os Grandes Orientes Estaduais e nomeie seus Grão-Mestres Estaduais. Poderão ser chamados de Delegados Regionais, se preferir. Caso contrário, outra opção é se tornar uma confederação e dar soberania a eles, perdendo assim o poder de intervenção. Mas enquanto esse modelo híbrido jabuticabesco estiver em vigor, a previsão é de que o atual pacto federativo gobiano continuará a ser ferido, prejudicando lojas e irmãos, e causando instabilidade nas relações.
A Maçonaria soma mais de trezentos anos de história tendo, durante o século XVIII, servido de palco para os debates iluministas em defesa da democracia; da igualdade de todos perante a lei; e das liberdades civil, religiosa, política e intelectual. Não por acaso, sua iniciação simbolicamente gira em torno da busca pela luz do conhecimento e da verdade.
A proposta do Iluminismo era de
emancipar o homem pelo uso da razão. Isso porque, após séculos de escuridão
científica, o mundo ocidental experimentava estados teocráticos, em que o que
era dito por sacerdotes era lei, inclusive sobre sua vida pessoal, familiar e
profissional. Em outras palavras, você não precisava pensar, mas apenas
obedecer a seu sacerdote.
Esses debates iluministas tinham
caráter sigiloso, de modo a proteger seus membros, muitos deles filósofos,
intelectuais e livres-pensadores, de perseguições em governos autoritários.
Essa tradição foi mantida pela Maçonaria até os dias de hoje. Contudo, isso infelizmente
não impediu que ela e seus membros sofressem ataques e perseguições ao longo
dos anos.
A primeira Bula Papal contra a
Maçonaria data de 1738 e apontava como única justificativa o fato de a
Maçonaria perturbar a tranquilidade daquelas monarquias absolutistas que até
então existiam. Mas, por muitos anos, esse ataque não ficou restrito ao papel.
Apenas para citar um exemplo, e de personagem conhecido em nosso país: Hipólito
da Costa, pai da imprensa brasileira, foi um dos presos pela Inquisição pelo “crime”
de ser maçom.
No Brasil, durante a segunda
metade do século XIX, a Maçonaria também sofreu ataques, período conhecido na
história como “Questão Religiosa”. Seu crime: defender a Abolição da
Escravatura e a garantia constitucional da liberdade religiosa, tendo,
inclusive, apoiado a vinda e pregações dos missionários de diferentes
denominações cristãs para o Brasil, como batistas e presbiterianos. Hoje, somos
alvo da desinformação de alguns pastores de ramificações destas.
Já no século XX, todo governo
autoritário, ciente da bandeira democrática da Maçonaria, a condenou e perseguiu.
Foi assim, por exemplo, na Rússia, com o Bolchevismo; na Espanha, com o
Franquismo; na Itália, com o Fascismo; e na Alemanha, com o Nazismo, quando milhares
de maçons foram presos e executados em campos de concentração alemães. E no
Brasil, quando Vargas deu seu golpe de estado e implementou o Estado Novo, em
1937, com o apoio dos Integralistas (versão brasileira dos fascistas e
nazistas), uma de suas primeiras ações foi fechar a Maçonaria brasileira com
uso de força policial, tendo seus imóveis vandalizados e documentos apreendidos
ou destruídos.
E, mesmo assim, a Maçonaria,
tanto no Brasil como fora, manteve seu trabalho interno, de educação moral e
ética para seus membros; e externo, por meio de suas ações, programas e
projetos sociais. Sempre atuando de modo discreto, agregando membros de
diferentes cores, religiões, origens e opiniões políticas, e apenas exigindo
dos mesmos a crença em Deus e na Imortalidade da alma, visto o ensinamento de sua
moral partir desses dois princípios dogmáticos, herança dos pensamentos de
filósofos como Rousseau, com sua ideia de religião civil; e de Kant, com seu
teísmo moral.
Já em pleno século XXI, vê-se que
no Brasil ainda impera um pré-iluminismo, no qual a Teologia do Medo está
presente nos debates políticos e nas mensagens compartilhadas em redes sociais;
com a confusão Igreja-Estado, da Idade Média, mais viva do que nunca, tornando
natural à população a existência de uma “bancada evangélica” no Congresso e de
um “padre” ter se candidatado a presidente; com pautas de duzentos anos atrás,
como terraplanismo e antivacina, voltando a ter espaço e fôlego; com uma
disputa eleitoral, que deveria centrar em pautas como economia, saúde,
educação, segurança pública, meio ambiente e relações exteriores, tornando-se
uma guerra-santa do bem contra o mal. E assim, se acredita nas narrativas mais
absurdas e as passa adiante como uma verdade absoluta, pela simples
incompetência de se usar a racionalidade.
E é nesse cenário, de tamanha
ignorância, intolerância e fanatismo, e com finalidade explicitamente eleitoreira,
que vejo a retomada absurda da discriminação contra maçons e a Maçonaria, com
seus mais de duzentos anos de atuação maçônica em solo brasileiro, e uma
incontável lista de serviços prestados à sociedade e ao país.
Bolsonaro não é maçom. Lula
também não. Mas Ruy Barbosa era. Assim como Frei Caneca, Luís Gama, Bento
Gonçalves, Dom Pedro I, José Bonifácio, Duque de Caxias, Carlos Gomes, Deodoro
da Fonseca, Jânio Quadros, Mário Covas e tantos outros brasileiros que moldaram
nossa história. Eles optaram por frequentar lojas maçônicas, dedicando um pouco
dos seus tempos para forjar o caráter por meio do estudo e do debate. E apenas
homens de boa vontade e voltados a causas nobres têm esse desprendimento.
Pare de acreditar nas mentiras
que aqueles que não conhecem a Maçonaria, agindo de má fé ou por pura
ignorância, contam por aí. Basta desse preconceito cego e equivocado. Faça seu
próprio Iluminismo: raciocine por conta própria. E se você for evangélico, em
suas orações noturnas, não deixe de agradecer à Maçonaria por oportunizar a
consolidação das igrejas evangélicas no Brasil. Hoje você enche a boca para
dizer que o Brasil é um país cristão… pois saiba que no século XIX, este era
um país católico e quem não era católico tinha direitos limitados, dificuldades
para fazer negócios e até mesmo para ser enterrado. E a Maçonaria mudou isso. Não
há de quê! Disponha!
O mundo está ficando menos inteligente. E isso não é uma afirmação vazia: nos últimos anos, dezenas de estudos realizados nos mais diferentes países têm mostrado que, após décadas de crescimento contínuo na inteligência média da população (o chamado Efeito Flynn), os resultados começaram a despencar.
O Efeito Flynn, ou seja, o aumento contínuo da inteligência média, era explicado pela melhoria no consumo de nutrientes, mais investimentos em educação e crescente estímulo nos ambientes sociais. E não coincidentemente, o aumento da inteligência média sempre esteve diretamente relacionado com o aumento do hábito de leitura.
Já essa reversão no Efeito Flynn, ou seja, o emburrecimento geral, seria consequência de mudanças nos hábitos, com crianças, adolescentes e adultos a cada dia com mais horas diárias frente a uma tela (televisão, celular, computador, tablet), consumindo informação audiovisual em vez de leitura.
E por que a leitura estaria relacionada com a inteligência? Quando se lê, exige-se um esforço cognitivo maior para se compreender e imaginar do que o consumo audiovisual, que praticamente não exige esforço algum. É por isso que, para alguns, ler “dá sono”, mas maratonar uma série na TV, não. Ainda, a leitura gera um aumento de vocabulário, que também está diretamente relacionado à inteligência. Nós, humanos, somos seres sociais, com uma existência baseada em relações interpessoais, partindo da família, até a sociedade em geral. E toda interação é quase em sua totalidade feita por meio das palavras. Assim, quanto mais palavras você sabe, mais coisas (e mais complexas) aprende e compreende, e melhor se comunica. Com isso, tem-se uma evolução das ideias, teorias e, consequentemente, das ciências.
Se esse ritmo de queda na inteligência média continuar, acredita-se que a próxima geração de adultos ficará na média considerada “baixa inteligência” e que chamamos popularmente de “lesados”. No caso do Brasil, que tem em torno de 30% da população analfabeta funcional e enfrenta gradativa redução nos investimentos em educação, as consequências poderão ser desastrosas e permanentes. Ainda mais, considerando a quantidade de livrarias que fecham suas portas todos os anos, o aumento absurdo no preço do papel e, se não bastasse, esforços governamentais para tributar livros, que eram isentos no Brasil desde a década de 40.
As consequências da redução na inteligência média já podem ser vistas por aí. Entre elas, alguns pesquisadores apontam o crescimento do “viés de confirmação”: quando pessoas somente acreditam naquilo que está de acordo com suas crenças e opiniões, rejeitando todos os fatos e argumentos racionais contrários. Isso leva à simplificação de questões complexas, polarização de temas originalmente multifacetados, proliferação de fake-news e de teorias conspiratórias, dentre outros males.
Sem inteligência, também não há senso crítico, que é a capacidade de analisar questões racionalmente, sem aceitar de modo automático as informações ou opiniões de terceiros. E sem senso crítico, não há a tão mencionada busca da verdade; bem como o combate à ignorância, à intolerância e ao fanatismo; ambos objetivos da Maçonaria.
Um indício claro da falta de senso crítico num ambiente maçônico é a adoção e repetição de termos prontos, mesmo quando fogem da normalidade. Por exemplo: “Eu estou Venerável Mestre da Loja XYZ”. Quem fala assim, “eu estou gerente da empresa tal”? O normal é “eu sou gerente da empresa tal”. É assim que adultos falam! Como tantos irmãos podem cair no argumento infantil de que isso parece ruim? O verbo “ser”, conjugado no presente, indica apresentação em determinada posição ou condição atual (que é o caso de um VM). Já o verbo “estar”, quando empregado assim, presume permanência breve e passageira: “estou na rua e logo chegarei em casa”. Não se aplica a um cargo que se ocupa por um ano ou mais!
Outro exemplo é a condenação daqueles que dizem “ontem fui para reunião da minha loja”, pelo argumento, mais uma vez infantil, de que o termo “minha” é negativo, pois passa a ideia de que você é ou quer ser o dono da loja. Conforme o dicionário, “minha” também se refere a uma pessoa que pertence ou faz parte de algo. Ou seja, que não é dono, mas membro, como em uma Loja.
E como não mencionar o famoso e, ao mesmo tempo, falacioso termo “sou um eterno aprendiz”? Por que não mudamos então os nomes dos três graus simbólicos para Aprendiz I, Aprendiz II e Aprendiz III? Aprendiz é aquele que é novato em um ofício. Quando você tem mais de dez anos de Ordem, foi Venerável Mestre (“foi”, não “esteve”) e fala que é “um eterno aprendiz”, está apenas dizendo que é um falso modesto, que fere em seu discurso o sistema hierárquico educacional das antigas corporações de ofício, tão bem preservado na Maçonaria, apenas para parecer humilde.
E ainda há a clássica: “a Maçonaria é perfeita”. Então por que todo ano tem mudança na legislação maçônica e em algum ritual??? A Maçonaria não está em constante melhoria? Como uma instituição criada pelos homens pode ser perfeita? Se assim for, todas as instituições não são tão perfeitas quanto a Maçonaria? E para piorar, dessa nasceu aquela “mulher não entra na Maçonaria porque já é perfeita”. Tudo conversa pra boi dormir.
Agora, exerça seu viés de confirmação e faça interpretações tendenciosas para defender a manutenção do uso desses termos, tão esdrúxulos à luz do menor senso crítico. Assim, apenas reforçará ainda mais esta teoria do Efeito Flynn Reverso na Maçonaria.
Marinho gostava muito de jogar futebol. Um dia, mudou para a cidade grande por força do trabalho e logo procurou um time para jogar: “Gol Brasil”. Ele jogava tão bem que, em poucos anos, já era capitão do time!
Só tinha um problema: a maioria dos jogadores, com o consentimento da comissão técnica, usava anabolizante… Marinho e outros jogadores eram totalmente contra essa prática, em especial depois que foram jogar em um campeonato internacional, que ocorria de cinco em cinco anos, e souberam que, a partir da próxima edição do campeonato, haveria exame antidoping, e o time cujos jogadores fizessem uso de substâncias proibidas seria banido para sempre da competição.
Ao retornar daquele campeonato internacional, Marinho começou um trabalho de conscientização dos outros jogadores e de diálogo com a comissão técnica, mas em vão. A prática irregular estava arraigada no time. Os anos se passavam, a nova edição da competição se aproximava, e as seringas de anabolizantes permaneciam nos vestiários.
Então, Marinho e seus colegas que não se dopavam tiveram que fazer a escolha mais difícil de suas vidas futebolísticas: eles abandonaram o time e criaram um novo time na cidade: a “Grande Liga”. Eles amavam futebol, mas queriam jogar dentro das regras, de forma regular. Para isso, abriram mão de um time já estruturado, com sede própria e patrocinador, para começar um time do zero. Ainda assim, era melhor do que ficar sem jogar bola, ou se prejudicarem pelos erros dos outros.
Assim, a cidade passou a ter dois times rivais. O de
Marinho, a “Grande Liga”, que jogava campeonatos internacionais
regulamentados, com exame antidoping; e o time mais antigo, o “Gol
Brasil”, que focava em campeonatos nacionais e os poucos internacionais
que ainda não exigiam exames antidoping.
Mas os jogadores do “Gol Brasil” não perdoavam
Marinho e aqueles que o acompanharam, inventando e disseminando todo tipo de
mentiras sobre a turma da “Grande Liga”. Diziam que Marinho abriu
outro time porque não seria mais capitão, e que havia roubado bolas e chuteiras
da sede do “Gol Brasil”. E ainda defendiam que o uso de anabolizantes
era algo totalmente aceitável no meio, servindo apenas de desculpas para que
Marinho tivesse seu próprio time. Tratava-se do bom e velho “Argumentum ad Hominem“: falácia de
tentar desacreditar o autor, sugerindo desvios de caráter e segundas intenções,
como forma de desviar a atenção dos reais problemas e anular a validade da ação
oposta.
Então muitos anos se passaram. Marinho e os jogadores da
época da cisão no futebol da cidade se foram. Os poucos campeonatos
internacionais que não tinham exames antidoping, passaram a adotá-los, levando
o time “Gol Brasil” a também abolir o uso de anabolizantes. Ambos os
times, agora formados por jogadores e comissão técnica que não viveram aquele
período do racha, passam a jogar dentro das mesmas regras e a participar dos
mesmos campeonatos, levando à maior convivência e amizade entre a maioria de
seus membros.
CONTUDO, vez ou outra, alguém pergunta porque há dois times
na cidade. E alguns poucos membros da comissão técnica do “Gol
Brasil”, como um tal de Pedro Juca, em vez de terem a humildade de assumir
a verdade, de que o time fazia uso de anabolizantes no passado, o que levou ao
rompimento com um grupo de jogadores que formaram o novo time, mas que esse
erro foi corrigido muitos anos atrás e hoje os dois times têm ótimo
relacionamento; preferem desenterrar as velhas difamações contra o falecido
Marinho, numa tentativa frustrada de colocar em dúvida a legitimidade do time
amigo que, para eles, ainda é rival.
Ainda falta espírito desportivo em algumas “lideranças” do futebol…