Ontem, 22/02/23, como tem ocorrido nos últimos anos, nós, maçons brasileiros, fomos bombardeados com mensagens de parabéns pelo Dia Internacional do Maçom, bem como por mensagens daqueles que duvidam da existência de tal data nos moldes em que ela se apresenta.
Aqui mesmo no blog, há cinco anos, apresentei várias contradições à versão divulgada de que, na Conferência de Grão-Mestres da América do Norte de fevereiro de 1994, o então Grão-Mestre da Grande Loja Regular de Portugal, Fernando Teixeira, propôs o dia 22/02 como Dia Internacional do Maçom, em homenagem a George Washington, o que teria sido supostamente aprovado por unanimidade naquela conferência.
Contudo, estranhamente, a homologação dessa suposta aprovação unânime somente ocorreria nas jurisdições do próprio Grão-Mestre português, Fernando Teixeira, no mês seguinte; e do Grão-Mestre Geral do GOB, Francisco Murilo Pinto, um ano depois, em 1995. Ambos tinham sido estreantes naquela Conferência da América do Norte, presentes ali como visitantes, em busca de reconhecimentos, sem direito a voz e voto.
Ao analisar o relatório da Comissão de Informação para Reconhecimento daquela conferência (principal comissão e que recebe atenção de toda a comunidade maçônica internacional), como esperado, nada se encontrou quanto a tal proposta e sua votação. E ao analisar a minuta da reunião da Associação do George Washington Masonic National Memorial, vê-se a presença dos Grão-Mestres Francisco (GOB) e Fernando (Portugal), e discursos de irmãos norte-americanos enaltecendo a figura de Washington, mas nenhuma proposta apresentada e muito menos votada e aprovada por unanimidade, instituindo o Dia Internacional do Maçom, como sugere os decretos, português e gobiano, da época.
As Conferências de Grão-Mestres da América do Norte costumavam ocorrer nessa época de fevereiro e na região de Washington, DC, exatamente em comemoração a George Washington, visto que a Associação do Memorial Maçônico, localizado naquela região, em Alexandria, VA, é uma organização integrante da Conferência. Nesse contexto, os irmãos Fernando e Francisco testemunharam vários discursos enaltecedores da figura de Washington.
Ainda, uma testemunha ocular da Conferência confirmou que, de fato, o Irmão Fernando Teixeira, muito carismático e comunicativo, ao presenciar aquele tributo a Washington, sugeriu oralmente a vários irmãos presentes essa ideia de se instituir um Dia Internacional do Maçom em sua homenagem. Muitos a acharam interessante, mas a ideia não se tornou uma proposta formal, não tendo sido analisada por qualquer comissão e, obviamente, não foi votada.
Assim, pode-se dizer que a história contida nos decretos dos Grão-Mestres Fernando (Portugal) e Francisco (GOB) difere dos registros oficiais da conferência e do testemunho de participantes. Isso talvez tenha ocorrido por desconhecerem as práticas daquela conferência e não dominarem a língua inglesa, o que pode ter levado à compreensão errônea de que algo do gênero teria sido aprovado.
Contudo, não ousarei dizer que não existe o Dia Internacional do Maçom, visto que a GLRP/GLLP e o GOB estão em duas nações distintas, tornando a data, de certo modo, “internacional”, neste que é um curioso caso de potências de dois países latinos e lusófonos, com mais de meio milênio de história em comum e inúmeras figuras maçônicas de renome, homenageando sozinhas um maçom norte-americano como patrono de um Dia Internacional.
O documentário “MAÇONARIA BRASILEIRA: um segredo de 200 anos revelado” já está disponível no YouTube!
Trata-se, provavelmente, do primeiro fruto real do movimento de união da Maçonaria Regular Brasileira, cuja exibição, ao mesmo tempo em que esclarecerá a sociedade sobre o que realmente é a Maçonaria e quais seus objetivos e princípios, indiretamente prevenirá os telespectadores de caírem nas narrativas e golpes das pseudo-maçonarias.
Sugerimos que assista e compartilhe com irmãos, cunhadas, sobrinhos e amigos. Algumas lojas, inclusive, já estão tendo a bela iniciativa de se reunirem para assistir e debater ao final.
“Maçom não é mercadoria”. Estranho ter que dizer isso, ainda mais em pleno século XXI e numa fase nunca antes vista neste país de união e harmonia das vertentes simbólicas. Contudo, se faz necessário.
Ontem deparei-me com uma circular de um Grão-Mestre
ameaçando seus membros de exclusão, caso venham a pertencer a um Supremo
Conselho que não seja aquele com tratado com sua potência simbólica, numa
nítida política de reserva de mercado, como se os irmãos fossem produtos.
Há tantos equívocos em tal atitude, que passo a enumerá-los:
1 – Tratado é acordo firmado entre duas organizações
independentes que tenham paridade, ou seja, igualdade em suas naturezas e
atuações. Na esfera maçônica, isso significa entre potências simbólicas ou
entre Supremos Conselhos. Contudo, o aspecto histórico da prática irregular de
uma maçonaria mista no Brasil, em que uma potência simbólica mantinha controle
sobre um Supremo Conselho, levou ao surgimento do estranho mecanismo de
tratados entre desiguais, ou seja, entre potências simbólicas e supremos
conselhos.
2 – O tratado mencionado na circular foi firmado em 1965,
tendo como signatário da potência simbólica o Grão-Mestre Álvaro Palmeira. Em
1967, o mesmo Grão-Mestre declararia aquele Supremo Conselho com o qual firmou
tratado como “um Supremo Conselho espúrio, irregular e clandestino, em que são
nulos os graus concedidos”. Então, nesta escola de moralidade em que nos
encontramos, deve-se questionar o valor de um tratado que não é entre pares e
que foi renegado por um dos signatários.
3 – Do final de 2018 para cá, a Maçonaria brasileira tem
experimentado um movimento de aproximação das três vertentes regulares. Isso refletiu,
inclusive, na unificação da Ordem DeMolay, em 2019. Contudo, lideranças que ainda
vivem no passado de concorrência e subtração, e não no presente de colaboração
e sinergia, podem abalar essa união e harmonia com atitudes autoritárias.
4 – Vivemos em um Estado Democrático de Direito, cuja Constituição Federal, em seu 5º artigo, garante a plena liberdade de associação. Desse modo, o 8º artigo do referido tratado, que prevê a exclusão do simbolismo por filiação a outro Supremo Conselho, ou do Supremo por filiação a outra potência simbólica, é ilegal e não sobreviveria a qualquer questionamento jurídico.
5 – Um Supremo Conselho não pode ser refém de uma potência simbólica,
por meio de um contrato com cláusulas abusivas, por risco de não fazer jus ao
termo “Supremo”. Caso contrário, cai na mesma incoerência de se autointitular “mãe
dos graus escoceses”, enquanto o único reconhecimento que possui é justamente de
um Supremo Conselho que não adota “escocês” no nome do rito.
6 – Por fim, há que se considerar a questão ética envolvida no fato de um líder eleito do Simbolismo ameaçar seus próprios membros de exclusão para proteger exclusivamente os interesses de outra organização, da qual ele não é dirigente.
Por essas razões, espero que as autoridades maçônicas envolvidas revejam tal postura, que segue o caminho oposto do movimento maçônico atual no Brasil, o qual tem atendido os anseios do povo maçônico brasileiro e já tem gerado excelentes frutos.
A publicação da 1ª edição da Constituição de Anderson, em 1723, foi um importante marco histórico para a Maçonaria, pois inaugurou, de fato, a Maçonaria como a conhecemos, por meio da promulgação desta que foi uma autoafirmação de um povo maçônico sobre seu direito de livre associação e seu desejo de estabelecer uma estrutura e um funcionamento mais permanente e iluminista para a Maçonaria, como se tem até os dias de hoje.
Pelo seu pioneirismo, conforme a própria Maçonaria florescia em novos territórios, a Constituição de Anderson também servia de primeira referência literária. Não por acaso, ela foi a primeira obra maçônica impressa nos EUA, tendo sido publicada em 1734, na Filadélfia, Estado da Pensilvânia, por ninguém menos que Benjamin Franklin: polímata, iluminista, maçom e um dos pais fundadores dos Estados Unidos da América.
Em comemoração dos 300 anos de sua publicação, apresentamos sua tradução para o português, incluindo notas com importantes comentários para se compreender termos utilizados, contexto da época, conceitos, etc.
A tradução foi feita pelo Irmão Kennyo Ismail, que já traduziu e comentou a Ahiman Rezon: a Constituição dos Maçons Antigos. E sua publicação será feita com a qualidade já conhecida da editora No Esquadro, responsável pela publicação de títulos como Ordem sobre o Caos, Maçonaria Brasileira: a história ocultada, e recentemente a edição maçônica da Bíblia Sagrada.
Nesta edição comemorativa de 300 anos da Constituição de Anderson, buscou-se manter a mesma aparência da publicação original, utilizando-se de fontes, diagramação e aparência similares.
O projeto está sendo financiado coletivamente via Catarse. Para saber mais ou garantir seu exemplar, CLIQUE AQUI.
Os diáconos são cargos antigos, tendo sido herdados da Maçonaria Operativa, conforme se verifica no 1º Estatuto de Schaw, de 1598: “que eles obedeçam aos seus Vigilantes, Diáconos e Mestres em todas as coisas referentes a seu ofício”.[i]
Em algumas jurisdições, enquanto o Primeiro Diácono serve como assistente do Venerável Mestre, e o Segundo Diácono como assistente do Primeiro Vigilante, esses são os cargos hierarquicamente mais importantes da Loja após os três principais dirigentes, ocupando, assim, a quarta e a quinta posições de linhas sucessórias.[ii]
Um pombo com um ramo em seu bico é a insígnia dos diáconos em alguns dos ritos maçônicos trabalhados regularmente no Brasil. No caso das Grandes Lojas brasileiras, há ainda um triângulo em torno do pombo, para diferenciar o Primeiro Diácono do Segundo.
Esse símbolo como referência aos diáconos passou a ser adotado a partir da Inglaterra, tomando emprestado a simbologia bíblica contida na lenda de Noé, que teria enviado um pombo para encontrar terra firme após o dilúvio. Assim, o pombo é símbolo da função de levar as ordens a outras partes da loja. Não por acaso, a palavra “Diácono” vem do grego, “Diakonos”, que designa um servo, ajudante ou mensageiro.
Não por acaso, outra opção de símbolo para o Diácono, menos comum no reino britânico, é a de Mercúrio, justamente por ser personificado na imagem de um mensageiro, por ser este o Mensageiro dos Deuses. O uso de Mercúrio nos bastões ainda pode ser observado em lojas antigas, visto que a adoção de Mercúrio como símbolo do Diácono foi anterior à do pombo.[iii]
Sabe-se que, pelo menos em 1760, a prática do Venerável Mestre sussurrar algo ao Primeiro Diácono, que se dirige ao Primeiro Vigilante e transmite de igual modo a este, e este ao Segundo Diácono para que comunique de modo igual ao Segundo Vigilante, era algo presente em rituais ingleses.[iv]
Apesar dessa prática ter desaparecido na Inglaterra, provavelmente quando da fusão das duas Grandes Lojas rivais, ela sobreviveu em rituais que tomaram esses anteriores por base, como é o caso do Rito Escocês Antigo e Aceito. Sua execução serve como um belo exemplo do antigo papel de mensageiro exercido pelos Diáconos, já que em alguns rituais atuais, os Diáconos realizam outras tantas atividades, mas perderam a essência de mensageiros.
[i] COOPER, R. L. D. Revelando o Código da Maçonaria. São Paulo: Madras, 2009, p. 201.
[ii] COIL, H. W.; BROWN, W. M. Coil’s Masonic Encyclopedia. New York: Macoy, 1961, p. 156.
[iii] CARR, H. O Ofício do Maçom. São Paulo: Madras, 2012, 213-214.
[iv] e.g.: The Three Distinct Knocks. Dublin: Thomas Wilkinson, 1760, p. 30.