Já dizia o jargão: “o povo que não conhece sua história está fadado a repeti-la”.  Há outro que ainda diz que “enquanto o inteligente aprende com seus próprios erros, o sábio aprende com os dos outros”. Talvez a Maçonaria Brasileira possa aprender algo com tais lições populares ao conhecer um pouco da história dos irmãos do norte, os norte-americanos.
A Maçonaria Americana soube explorar o crescimento econômico para promover seu próprio crescimento. Os números indicam que, enquanto no ano de 1850 estima-se que haviam algo em torno de 70 mil maçons nos EUA, esse número chegou a mais de 800 mil em 1900 e incríveis mais de 3 milhões em 1929, antes da “Grande Depressão”. Daí em diante, experimentando “picos e vales” por conta das Guerras, a Maçonaria Americana alcançou seu auge em 1959, com mais de 4 milhões de membros, o que representava quase 10% da população masculina adulta do país. Até que… chegaram os anos 60.
No início dos anos 60, o perfil dos maçons americanos era: homens brancos, adultos, patriotas, conservadores, protestantes. E naquela década, os EUA começaram a experimentar uma verdadeira revolução cultural. Foi a época do surgimento do movimento hippie, baseado em “paz e amor”, e do “sexo, drogas e rock’n’roll”. Enquanto os maçons estavam com seus cabelos bem cortados e penteados, vestidos de terno e entoando um discurso patriótico, os seus filhos estavam criticando as guerras e suas razões, questionando as leis e promovendo novos estilos de vestimenta e vida.
O reflexo desse atrito cultural da década de 60 foi claro nas décadas seguintes: aqueles maçons do início da década de 60 foram falecendo, enquanto que os jovens daquela década, agora adultos, não se interessavam em ingressar na Maçonaria, crendo ser uma instituição “retrógrada”. Mesmo em famílias de grande tradição maçônica, em que os membros eram maçons há gerações, os jovens se mostraram resistentes. Os números foram caindo ano a ano e em 2007, a quantidade de maçons nos EUA chegou a um pouco mais de 1,4 milhão.
Como tentativa de reduzir esse déficit constante, algumas Grandes Lojas começaram a “facilitar as coisas”, promovendo o que podemos chamar de “curso intensivo” de Maçonaria: os candidatos podiam ir de Aprendiz a Mestre em apenas um dia. Além disso, partiram para o “ganho de escala”, promovendo iniciações de centenas e até milhares de candidatos em uma única vez.
Uma estratégia muito comum atualmente é o alto investimento em propaganda, incluindo vídeos em que atores representando George Washington e Benjamin Franklin falam com paixão sobre a Ordem. Esses vídeos têm se multiplicado pela Internet e vêm apresentando bons resultados, com a inclusão de milhares de novos membros às Lojas. Porém, nada perto de antes dos anos 60.
A queda no número de membros continua nos EUA, principalmente nos Altos Graus dos Ritos. Por conta disso, os Shriners, principal braço filantrópico da Maçonaria Americana, precisou mudar suas regras: antes, um maçom precisava ser Grau 32 do Rito Escocês ou Cavaleiro Templário do Rito de York para solicitar ingresso. Desde 2000 esse requisito caiu, e agora basta ser Mestre Maçom para ingressar. Quando os Shriners tomaram essa decisão, como uma forma de sobreviver à queda constante, isso gerou um grande problema aos Altos Corpos dos Ritos, que não tinham mais o “incentivo” da obrigatoriedade exigida pelos Shriners.
É interessante que os Irmãos do Hemisfério Norte não estão preocupados em atacar a causa, ou seja, a imagem “careta” da Maçonaria perante a sociedade norte-americana e sua cultura organizacional extremamente formal para os padrões sociais atuais. Eles estão focados em reduzir os efeitos.
Ao que tudo indica, a Maçonaria Brasileira está vivendo os “anos 60” dos EUA: seus membros estão envelhecendo e os jovens não estão interessados em suas fórmulas, pois enxergam na Maçonaria uma instituição conservadora, para “velhos”. Saberemos aprender com os erros dos outros? Atacaremos a causa ou também os efeitos? Disso dependerá o futuro de nossa Maçonaria. Uma coisa é certa: não temos milhões de membros para perder até começarmos a acertar.