HISTÓRIA DA MAÇONARIA BRASILEIRA PARA ADULTOS

HISTÓRIA DA MAÇONARIA BRASILEIRA PARA ADULTOS

Com prefácio do então Secretário-Geral da CMSB, Etevaldo Barcelos Fontenele, e posfácio do Presidente da COMAB, Gilberto lima da Silva, o livro, que conta com mais uma capa do irmão e ilustrador João Guilherme da Cruz Ribeiro, promove a máxima de que “a maçonaria que não conhece a sua história está condenada a repeti-la”.

A intenção é apresentar interessantes fatos históricos da maçonaria brasileira, alguns deles estranhamente desconhecidos por muitos dos irmãos, de forma nua e crua, apresentando questionamentos onde cabem e colocando o dedo na ferida dos erros, muitas vezes escondidos por frágeis curativos literários.

A obra apresenta um cruzamento analítico das duas histórias, a do Brasil e a da Maçonaria brasileira. Dividida em três grandes capítulos, relativos aos acontecimentos maçônicos ocorridos nos séculos XIX, quando a Maçonaria brasileira rapidamente alcançou seu ápice político e social; XX, quando sofreu duros golpes internos e externos, adormecendo política e socialmente; e XXI, quando se vê os primeiros sinais de um possível despertar.

Você pode encontrar a obra na loja virtual da editora ou em livrarias e outras lojas virtuais.

Maçonaria x Intervenção Militar

Maçonaria x Intervenção Militar

É melhor prevenir do que remediar, então vamos lá:

Está correndo solta, não somente nas redes sociais, mas nos maiores (não melhores) veículos de comunicação do país, a notícia de que um general do exército brasileiro (Mourão) deixou a entender, durante uma palestra, que ele e seus pares pensam em intervenção militar se julgarem que o poder judiciário não conseguirá limpar a classe política do país.

Alguns integrantes do governo se manifestaram, exigindo explicações das Forças Armadas. Então, o comandante geral do exército deu seu leve puxão de orelha no general bocudo, que fez seu ainda mais leve “mea culpa”, dizendo que, apesar de fardado na palestra, e de ter mencionado seus pares, somente falava por si.

O problema é que alguns jornalistas têm replicado a notícia, mencionando que a palestra ocorreu na Maçonaria. E antes de alguém dizer que a maçonaria brasileira apoia uma intervenção militar, seja achando bom ou condenando isso, cabe aqui alguns esclarecimentos:

Não existe uma única maçonaria brasileira. Há, pelo menos, três grandes vertentes maçônicas brasileiras em âmbito nacional: os Grandes Orientes Estaduais federados ao GOB – Grande Oriente do Brasil; as Grandes Lojas Estaduais confederadas à CMSB – Confederação da Maçonaria Simbólica do Brasil; e os Grandes Orientes Autônomos ou Independentes confederados à COMAB – Confederação Maçônica do Brasil.

Essas três vertentes nacionais são organizações totalmente independentes entre si, mantendo apenas uma relação amistosa (às vezes nem isso) entre seus dirigentes. Não há um único líder que possa falar em nome da “maçonaria brasileira”. Nem mesmo os três líderes de cada uma das vertentes mencionadas têm total liberdade de se manifestar em assuntos não-maçônicos sem a autorização de seus representantes estaduais (Grão-Mestres).

A palestra em questão foi promovida pela primeira vertente mencionada, o GOB. A CMSB e a COMAB, que juntas somam mais do que o dobro de membros do GOB, não participaram. Creio que sequer tinham conhecimento do evento.

Apesar de uma possível falta de bom senso na escolha do palestrante, já que o general em questão tem um histórico de pronunciamentos, no mínimo, imprudentes, o GOB não pode se responsabilizar nem ser responsabilizado pelo conteúdo do discurso de um palestrante convidado.

Por fim, para que não reste dúvidas, a maçonaria tem, entre seus princípios, um compromisso com a preservação e promoção dos ideais democráticos, dos quais serviu de incubadora no século XVIII.

Comenda José Castellani

Comenda José Castellani

No último dia 24 de outubro, no Templo Nobre do Grande Oriente do Distrito Federal – GODF, a Loja “José Castellani #3883” – GODF-GOB, realizou a concessão de sua Comenda José Castellani. Na modalidade “Mérito Literário” cinco irmãos foram condecorados, sendo um in memoriam: Rizzardo da Camino. O irmão Adão José Paiani, do GORGS-COMAB, se fez presente na solenidade representando a família da Camino e agradecendo em nome da mesma. Os outros 04 irmãos condecorados foram:

  • Eurípedes Barbosa Nunes – Grão-Mestre Geral Adjunto do GOB;
  • Marcos Antônio Pereira Noronha – membro da Loja Universitária “Ordem, Luz e Amor” (GODF-GOB);
  • José Robson Gouveia – membro da Loja “Pioneiros de Brasília” (GODF-GOB); e
  • Kennyo Ismail – membro da Loja “Flor de Lótus” (GLMDF-CMSB).

Ainda, a Comenda foi concedida, na modalidade de “Dedicação e Trabalho”, a três valorosos irmãos que têm colaborado para o engrandecimento daquela Loja e de seu trabalho em prol da Literatura Maçônica:

  • Liberalino Reis de Oliveira
  • Valdemar Pereira dos Santos
  • Edilson Barbosa Veloso

Tive a honra e o privilégio de receber a comenda das mãos do Eminente Irmão Lucas Francisco Galdeano, Grão-Mestre do GODF e um dos maiores promotores da cultura e educação maçônica no Brasil atualmente. Na oportunidade, foi-me concedido permissão de realizar um breve discurso, cujo trecho disponibilizo a seguir:

Respeitável irmão Mário Chaves, Venerável Mestre desta Augusta e Respeitável Loja; Eminente Irmão Lucas Galdeano, Grão-Mestre do Grande Oriente do Distrito Federal; irmãos, cunhadas, senhoras e senhores aqui presentes; inicialmente agradeço pela honra concedida de fazer uso da palavra nesta solenidade de outorga da Comenda José Castellani do Mérito Literário Maçônico de 2016. Nós, escritores de livros maçônicos, temos muita sorte… Não há gênero literário melhor, pois nossos leitores, mesmo os mais críticos, são sempre muito fraternos!
Creio que o momento é oportuno para que eu faça uma confissão… algo que venho escondendo há muitos anos… eu era um “goteira”! Para quem não está familiarizado com o termo, “goteira” é aquele profano que tem curiosidade e lê livros de Maçonaria. Meu avô é maçom, tendo iniciado, em 1967, na Loja “Luz e Humanidade”, do GOB – Minas Gerais. Apesar de um homem simples, com pouca escolaridade, era, e ainda é, aos 90 anos, um leitor voraz. Então, quando eu tinha uns 14 anos de idade, fui a uma livraria comprar um livro de presente de aniversário para o meu avô. A obra escolhida fora a primeira edição do Breviário Maçônico, de Rizzardo da Camino. Eu sabia que meu avô gostava dos livros do Rizzardo, pois via alguns de seus títulos em sua prateleira, e sabia que ele ainda não tinha esse, que era um lançamento. Mas o mais importante: o breviário se encaixava no meu orçamento!
No entanto, pela ansiedade comum aos adolescentes, comprei o livro com uma semana de antecedência do aniversário de meu avô. E munido dessa ansiedade, não resisti em lê-lo. Obviamente que pouco entendi, mas toda aquela mística me fascinou. Hoje, compartilho com meu avô essa paixão pela literatura maçônica e alguns daqueles títulos do Rizzardo da Camino compõem meu acervo pessoal. Assim, não posso deixar de sorrir para a roleta do destino e da vida, ao observar que, passados exatos 20 anos de minha “leitura proibida”, o primeiro autor maçônico que li, Rizzardo da Camino, vem a ser o patrono desta turma e o maior dos homenageados nesta noite. E não podemos deixar de reconhecer que aquela obra, então recém-lançada, mesmo passado 20 anos, é leitura diária de milhares de maçons brasileiros.
José Castellani e Rizzardo da Camino são, sem sombra de dúvidas, os dois autores mais lidos e citados da Maçonaria Brasileira. Um do Grande Oriente, o outro da Grande Loja. Um positivista, o outro místico. Duas faces da mesma moeda: a literatura maçônica brasileira, a qual nos une em festa hoje à noite. Diariamente, em templos maçônicos como este, verdadeiros Templos da Razão, nós maçons nos reunimos em busca de evolução. E como pesquisador, professor e escritor, tenho compreendido e ensinado que esta evolução proporcionada pela Maçonaria se dá por meio da dialética. Tem-se uma tese, que é uma ideia inicial, a qual precisa ser constantemente inquirida e questionada, de forma a gerar uma síntese, que nada mais é do que a tese melhor compreendida, melhorada.
Imaginemos as dificuldades e as limitações que autores como José Castellani e Rizzardo da Camino enfrentaram para nos proporcionar essa gama de teses concernentes à Sublime Ordem Maçônica em suas dezenas de livros. Se hoje, essa nova geração de escritores maçons, na qual ouso me incluir, tem condições de apresentar uma literatura maçônica de qualidade, devemos dar graças ao Grande Arquiteto do Universo pela oportunidade de realizarmos as antíteses das teses herdadas desses grandes vultos. Por essa razão, é a eles que presto aqui meus maiores agradecimentos.
Boa noite a todos.

 

QUANDO O GRANDE ORIENTE DO BRASIL ERA SOCIALISTA

QUANDO O GRANDE ORIENTE DO BRASIL ERA SOCIALISTA

Muitos dos maçons brasileiros da atualidade, tão tolerantes, para não dizer concordantes, com discursos e argumentos considerados reacionários, quando não pró-ditadura, talvez não imaginem que o GOB – Grande Oriente do Brasil, por anos defendeu oficialmente a bandeira socialista.

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A VERDADEIRA HISTÓRIA DOS PRIMÓRDIOS DA MAÇONARIA NO BRASIL

Infelizmente, história contada é história modificada. Isso porque a história é contada pelos sobreviventes e, via de regra, romanceada. E os maçons brasileiros, seres humanos como quaisquer outros, não fizeram diferente. Mas o compromisso maçônico da busca irrestrita e incessante da verdade faz com que alguns fatos, geralmente “esquecidos”, devam ser divulgados para que, pelo menos na Maçonaria, conheça-se a história real.

A história que quase todos os historiadores maçons contam é sempre a mesma e é mais ou menos assim: Em 1815, nove maçons fundaram Rio de Janeiro a Loja “Comércio e Artes”, a Loja Primaz do Brasil. Então, depois de alguns anos, em 1822, a Loja já contava com 94 membros, então resolveram dividir a Loja em três e fundar o Grande Oriente Brasileiro, primeira Obediência Maçônica no Brasil.
Na verdade, a Maçonaria brasileira não nasceu no Rio de Janeiro e nem tampouco lá foi o berço da primeira Obediência Maçônica. E, evidentemente, a Loja “Comércio e Artes” nunca foi a “Loja Primaz” do Brasil. Na verdade não foi nem a décima, quanto mais a primeira.
Apesar dos esforços de muitos autores maçons em negar isso, o pioneirismo maçônico brasileiro nasceu no Nordeste, mais precisamente na Bahia. A primeira cidade do Brasil também foi berço da primeira Loja Maçônica: “Cavaleiros da Luz”, fundada em 1797. Nada mais justo. Se quase tudo no Brasil começou lá, por que na Maçonaria seria diferente? O historiador e maçom Borges de Barros, que foi diretor do Arquivo Público da Bahia e relatou pela primeira vez a existência dessa Loja, ainda deu conta de que a Loja “Cavaleiros da Luz” foi a chama principal da Conjuração Baiana. Nada mal para os nossos pioneiros!
Mesmo com a dissolução dessa primeira Loja, com o passar dos anos a Maçonaria foi se desenvolvendo no fértil solo baiano: em 1802 surgiu a Loja “Virtude e Razão” que, depois de breve tempo adormecida, foi reerguida com o nome “Virtude e Razão Restaurada”, na mesma época em que, também de seu espólio, surgiu a Loja “Humanidade”. Ainda no Nordeste, não demorou para que a luz maçônica iluminasse, por influência da Bahia, o Estado de Pernambuco.
Sobre Pernambuco, é necessário aqui um comentário à parte:
Apesar de muitos escritores maçons assim desejarem, a “Areópago de Itambé” não era uma Loja Maçônica. No século XVIII existiam centenas de instituições criadas aos moldes da Maçonaria, usando símbolos iguais e similares, e até dividindo os graus em Aprendiz, Companheiro e Mestre como na Maçonaria. Era uma verdadeira “coqueluche” de Ordens, Clubes e Associações, e era muito comum os homens livres serem membros de duas ou mais dessas diferentes instituições, até mesmo no Brasil. Um exemplo disso é o “Apostolado”, da qual José Bonifácio, Gonçalves Ledo e D. Pedro I também faziam parte. Ser inspirada na Maçonaria não é o mesmo do que ser Loja Maçônica.  
Em 1809, atendendo às inúmeras Lojas que já existiam, foi fundado em Salvador o “Governo Supremo” ou simplesmente “Grande Oriente”, a PRIMEIRA Obediência Maçônica brasileira. Não era um “Grande Oriente da Bahia”, como os poucos historiadores maçons que o citam costumam se referir, pois era composto de, pelo menos, 09 Lojas: 03 na Bahia, 04 em Pernambuco e 02 no Rio de Janeiro. Maçons portugueses e brasileiros, muitos deles iniciados na França e Portugal, eram membros dessas Lojas. Tudo isso 06 anos antes da fundação da “Comércio e Artes” e 13 anos antes do GOB. Pernambuco, por contar com maior número de Lojas, ganhou em 1816 uma Grande Loja Provincial filiada ao “Governo Supremo”.
Interessante observar que mais uma vez a Maçonaria se fez presente na história: um dos responsáveis pela formação do Governo Supremo e tido como primeiro Grão-Mestre da Grande Loja Provincial de Pernambuco, Antônio Carlos de Andrada, foi o líder da Revolução Pernambucana, em 1817. Prova maior do papel decisório da Maçonaria no movimento é a lei régia de 1818 proibindo sociedades secretas no Brasil.
Antes que alguém tente justificar a constante omissão de tais fatos nas “versões oficiais” da Maçonaria brasileira por conta dessas Lojas e Obediência não terem sido regulares, é importante observar que a Loja “União”, fundada em 1800 no Rio de Janeiro e sempre presente nas versões históricas, também era irregular. Somente após a adesão de algumas autoridades públicas, ela foi “refundada”, aparentemente de forma regular, e teve seu nome modificado para Loja “Reunião”. Até mesmo a histórica Loja “Comércio e Artes” foi fundada sem Carta Constitutiva em 1815 e trabalhou de forma irregular até 1818, quando foi fechada. Somente quando de seu reerguimento, em 1821, a “Comércio e Artes” se filiou ao Grande Oriente Lusitano.  
Isso só nos mostra que a história da Maçonaria no Brasil é, muitas vezes, contada conforme a conveniência, omitindo os verdadeiros pioneiros em favor dos sobreviventes, ou lembrando deles quando se quer apontar a Maçonaria como protagonista das conjurações. Também é no mínimo intrigante como a Maçonaria esteve presente nos movimentos revolucionários baiano e pernambucano, mas tantos historiadores maçons e não-maçons fazem questão de negar sua participação na Inconfidência Mineira. Mas isso é tema pra outra ocasião.
O importante é reforçar que, antes de fundada uma Loja situacionista, a qual originou a Obediência que promoveu a independência sob a manutenção do imperialismo no Brasil, houveram várias outras Lojas e até Obediências oposicionistas, e muitos de seus membros morreram ou sofreram duras penas defendendo os princípios maçônicos de liberdade e democracia. E a Maçonaria brasileira de hoje tem o dever moral de honrar essa história.