Em julho de 2021 completa-se 33 anos do boicote à Ordem DeMolay no Brasil. Não é algo a se comemorar mas, com absoluta certeza, não é algo que devemos nos esquecer. Pegando emprestado o moto judaico relativo ao Holocausto, “lembrar para jamais esquecer”, compreende-se a importância de recordarmos e melhor compreendermos fatos tristes para que eles nunca mais se repitam.
Na década de 50, os maçons brasileiros experimentavam o gosto amargo da rivalidade entre o Grande Oriente do Brasil e as Grandes Lojas, além da existência de outras potências, como o Grande Oriente do Rio Grande do Sul – GORGS e o Grande Oriente de Minas Gerais – GOMG. No caso do GORGS, esse possuía um tratado formal com o GOB e estreitas relações com o mesmo, apesar de total soberania e independência. Já o GOMG, vivia isolado, não sendo reconhecido à época nem mesmo pelo GORGS.
A pressão do povo maçônico por ver uma maçonaria brasileira unificada ou, pelo menos, unida, era forte o bastante para empurrar os Grão-Mestres nesse sentido. Isso tornou o terreno propício para a realização do Conclave Geral da Maçonaria Simbólica Brasileira.
Esse foi o primeiro evento maçônico de nível nacional com a participação das potências simbólicas “concorrentes”, e provavelmente é o evento maçônico mais importante já realizado em toda a história da Maçonaria brasileira. Entretanto, foi esquecido (ou ocultado) durante todos esses anos.
WikiLeaks surgiu da iniciativa de revelar documentos de governos sobre questões polêmicas, dando conhecimento aos cidadãos de fatos ocultados aos mesmos. Graças ao WikiLeaks, a sociedade foi capaz de tomar ciência de casos de corrupção, abusos de poder, violações de direitos e até mesmo crimes de guerra envolvendo diferentes países.
A proposta do livro MAÇONARIA BRASILEIRA: A HISTÓRIA
OCULTADA é bastante similar, podendo ser considerada a WikiLeaks da Maçonaria
Brasileira. Não é à toa que a outra opção de título para o livro era A GUERRA
FRIA DA MAÇONARIA BRASILEIRA E SEUS DOCUMENTOS SECRETOS. São mais de 80 anos de
fatos documentados, reescrevendo a história da Maçonaria como nos foi e é
contada e revelando uma verdadeira “guerra fria” entre as vertentes
maçônicas brasileiras, envolvendo ritos e outras organizações, em escala
nacional e internacional, ocultada aos olhos de seus membros.
Uma das revelações, já exposta aqui no No Esquadro, foi que após o Grande Oriente do Brasil – GOB firmar tratado com o Supremo Conselho do Grau 33 do REAA – SC33, e o mesmo ser aprovado pela SAFL, em outubro de 1926; uma constituinte foi convocada para adequar a Constituição do GOB à nova realidade do tratado; então Octavio Kelly, recém-empossado GMG Adjunto, mentiu em reunião do Conselho Geral da Ordem, em 20/06/1927, de que torcia para a constituinte aprovar as mudanças necessárias para se adequar ao tratado com o SC33, enquanto, no dia seguinte, em 21/06/1927, ele assinava decreto cancelando a constituinte. Essa mentira descarada, essa ação de um homem só, contrária à SAFL e aos melhores interesses da Maçonaria brasileira, teria sido a pá de cal no relacionamento entre GOB e SC33 e servido de mola propulsora para o surgimento das Grandes Lojas. Tudo documentado.
E falando em Octávio Kelly, outra revelação foi a concessão do título de Benemérito ao seu filho, que era profano, para que ele usufruísse do mesmo caso um dia viesse a ser iniciado.
Também foi revelada uma carta do Grão Mestre Geral do GOB, Álvaro Palmeira, em 1967, em que ele confidencia sua intenção de reconstituir o Rito Brasileiro com 33 graus, como uma opção para substituir os altos graus do REAA do GOB, considerado por ele como “espúrio, irregular e clandestino”.
E falando em Álvaro Palmeira, você sabia que no início de sua gestão como GMG do GOB, ele criou uma Ordem feminina, em 1963, com a finalidade de “admissão da mulher nos trabalhos maçônicos” no ano seguinte? Mas a SAFL conseguiu impedi-lo. Sabia também que ele havia sido suspenso duas vezes do GOB, e que chegou a ser Grão-Mestre de outra potência, antes de ser Grão Mestre Geral do GOB?
Essas são apenas pequenas revelações dentre as centenas de fatos expostos do período analisado e apresentados no livro. Mas eles não se restringem ao GOB e ao REAA. Alcançam as Grandes Lojas da CMSB, os Grandes Orientes da COMAB, outros ritos, e até mesmo potências do exterior, como a Grande Loja Unida da Inglaterra. Todos têm seus esqueletos no armário e suas sujeiras sob o tapete.
Após anos de buscas, coletas e organização de documentos, muitos deles inéditos, e um trabalho de pesquisa e escrita ainda mais intensificado durante a pandemia, Kennyo Ismail apresenta sua nova obra, “MAÇONARIA BRASILEIRA: a história ocultada”, que abre e revela o conteúdo da caixa-preta de oito décadas da Maçonaria brasileira, abrangendo, desde o período anterior ao surgimento das Grandes Lojas, até o período posterior ao surgimento da COMAB.
Foram milhares de documentos analisados que reescrevem, com base em fatos documentados, muitas das histórias que nos têm sido contadas pelos meios oficiais e obras literárias publicadas até então. Ainda, eles revelam uma verdadeira e longa guerra travada nacional e internacionalmente nos bastidores da Maçonaria brasileira, ocultada dos olhos da base.
Serão revelados detalhes não apenas da origem, desenvolvimento e funcionamento dos bastidores dessa guerra envolvendo as três vertentes maçônicas simbólicas brasileiras (GOB, CMSB e COMAB), mas também envolvendo os Supremos Conselhos do REAA, os Ritos Adonhiramita, Brasileiro e Moderno, a Confederação Maçônica Interamericana, a Conferência dos Grão Mestres dos Maçons na América do Norte, a Grande Loja Unida da Inglaterra, e como tudo isso direta e indiretamente se relacionou a esses conflitos e seus blocos, ao longo de mais de 80 anos, sem que os maçons da base soubessem.
Além dos bastidores das relações interpotenciais brasileiras, alguns documentos revelaram outros fatos curiosos, ocultados ao longo dos anos. Como exemplo, você sabia:
Que uma potência maçônica brasileira ofereceu o Grão-Mestrado a um profano?
Que uma potência maçônica brasileira já teve problemas com prostituição e consumo de drogas em suas dependências?
Que uma potência maçônica brasileira já sofreu “Intervenção Militar”, com um general se auto-declarando Grão Mestre?
Que, na Ditadura Militar, um irmão foi preso e torturado por um Delegado de Polícia, também maçom, não por ideologia política, mas por sua vertente maçônica?
Que uma potência maçônica brasileira já teve um Grão Mestre ateu?
Esses são apenas cinco dentre os mais de cem fatos apresentados e comprovados, sendo que alguns descortinam verdades desconcertantes.
E por que conhecer a verdade sobre nossa história é tão importante? Porque esse período de união que estamos vivendo atualmente entre as três vertentes maçônicas brasileiras já foi experimentado outras vezes no passado, e sempre durou pouco. Para que essa união seja próspera e duradoura, é necessário retirar os esqueletos e o que mais estiver oculto no armário ou debaixo do tapete. Isso porque “a Maçonaria que não conhece a sua história está condenada a repeti-la”.Se o desejo de perpetuar esse período de união da Maçonaria brasileira é realmente genuíno, faz-se necessário entranhar-se no âmago dos conflitos, suas reais razões e motivações. Sem conhecermos e, principalmente, reconhecermos os erros desse passado não tão distante, não demorará para que eles se repitam.
Kennyo Ismail é pesquisador, professor, palestrante e escritor. Foi o tradutor e comentarista do clássico Ahiman Rezon (2016), e o revisor técnico da edição brasileira do best-seller Maçonaria para Leigos (2015). É autor de obras como Desmistificando a Maçonaria (2012), O Líder Maçom (2014), Debatendo Tabus Maçônicos (2016), História da Maçonaria Brasileira para Adultos (2017), Um Clone para Deus (2017), O Livro do Venerável Mestre (2018), e Ordem sobre o Caos (2020).
E, em todos esses anos envolvido com a produção e publicação de literatura maçônica, trabalhando com diferentes editoras, Kennyo percebeu que, para propostas literárias especiais como essa, não poderia se restringir a limitações de tipo de papel, capa, formato, dimensões, diagramação e distribuição que uma editora convencional muitas vezes impõe. Por essa razão, ele criou a Editora No Esquadro, pela qual publicou seu último livro “Ordem sobre o Caos” e publicará este, “Maçonaria Brasileira: a história ocultada”.
A capa do livro foi desenvolvida pelo talentoso ilustrador Felipe Bandeira, da Lápis Designer. O livro será publicado em capa dura e miolo em papel pólen, que proporciona maior conforto na leitura e manuseio. E em cada exemplar, um código que dá acesso a uma nuvem em que se poderá visualizar todos os documentos comprobatórios.
E para completar o projeto, foi desenvolvido o Box de Luxo, composto por uma caixa artesanalmente personalizada contendo um exemplar do livro autografado. A caixa é feita em MDF cru com dobradiças, tendo pintado na tampa, no canto superior esquerdo, o mesmo timbre de “confidencial” que há na arte da capa; e personalizada com o nome ou apelido do doador (máximo de 8 letras) pintado de preto no canto inferio direito. As cores e a temática da caixa são inspiradas na capa do livro, transmitindo a ideia de documentos confidenciais, sigilosos, secretos. Um verdadeiro trabalho artesanal, sendo cada peça personalizada e, por isso, com poucas unidades disponíveis.
Por meio dessa campanha, Kennyo Ismail espera contar com seu apoio para levantar o investimento necessário e transformar esse projeto em realidade. Os custos com desenvolvimento, revisões, diagramação, ilustrações e artesanato já foram suportados por ele. Assim, 100% do valor arrecadado será destinado às despesas com produção gráfica, embalagens e postagens.
O selo do Grande Oriente do Brasil é um belo exemplo de como a literatura maçônica brasileira é feita de forma reversa, ou seja, busca-se inventar ao símbolo significados diferentes do original, o que é extremamente mais fácil do que pesquisar seu significado original e preservá-lo. E assim, o significado original se perde…
Não pretende-se aqui tratar do moto em latim, da Constelação e a Lua, e da Estrela Flamejante, presentes no selo, mas de seu elemento central e pano de fundo, ilustrado por um relevo montanhoso banhado pelo mar.
Em 1967, o GMG e professor Álvaro Palmeira revelou que o selo do GOB somente surgiu em 1838, após o falecimento de José Bonifácio. E como se pode ver nos primeiros registros em que ele aparece, o rochedo ilustrado era o complexo do Pão de Açúcar visto pelo lado de Niterói, em que se vê, além do Morro do Pão de Açúcar, os morros da Urca, da Babilônia e do Leme. Evidentemente, com as limitações gráficas da época.
Na gestão do GMG seguinte, Moacyr Arbex, e a seu pedido, Kurt Prober, que era autoridade em timbres, selos e medalhas no GOB, concordou com o Irmão Palmeira e ainda observou, com seu vocabulário característico, que nos emblemas originais não se via os três ou quatro picos elevados, “que foram sendo “cada vez mais pronunciados e destacados no correr dos anos, principalmente de 1900 para cá, numa série de novos timbres esdrúxulos e mesmo ridículos”.
Nada mais natural do que escolher o complexo de morros do
Pão de Açúcar para ilustrar o selo, numa época em que o Rio de Janeiro era a
Capital Federal e outros símbolos da cidade, como o Cristo Redentor, ainda não
existiam. O Pão de Açúcar era o monumento natural do Brasil para os
estrangeiros, que chegavam em navios ao país via Porto do Rio de Janeiro. A
visão do Pão de Açúcar “por trás” e não pela visão tradicional da Praia
de Botafogo, era o ponto de vista de todos os navios que chegavam à Baía de
Guanabara. Mas também pode ter sido adotado em homenagem a José Bonifácio, que
passou seus últimos anos em Niterói. Isso também faria sentido, considerando que
as decisões do GOB eram tomadas lá nesse período e que sua residência
provavelmente permitia tal visão do Pão de Açúcar.
Os selos das potências maçônicas geralmente apresentam alguma relação simbólica com a jurisdição das mesmas. Isso pode ser representado pela inclusão da silhueta do mapa do território, pelo uso das cores da bandeira, ou a inclusão de um símbolo característico do local. O selo do Grande Oriente do Brasil trazia originalmente o Pão de Açúcar. Similarmente, os selos do GOSC e do GOB-SC, por exemplo, apresentam a ponte que é símbolo de Florianópolis, capital daquele estado.
Mas, como tudo na Maçonaria brasileira, os registros são mal feitos e mal cuidados, às vezes até perdendo-se com o tempo. E, quando necessária uma explicação, é mais fácil e mais rápido inventá-la do que pesquisá-la. Sem uma referência e com as modificações mencionadas por Prober, o selo do GOB foi distanciando-se drasticamente de sua forma original.
Já na gestão de Francisco Murilo Pinto, o selo foi alvo do Decreto 0085, de 20 de novembro de 1997. Nele, registra-se “três rochedos, batidos por ondas violentas”, sendo esses três rochedos símbolos dos “três graus simbólicos”, sendo o Mestre o maior dos três. As ondas do mar representam “os vícios, os maus costumes, os inimigos”, mas a Maçonaria, representada pelos rochedos, “não se deixa abater”. Entretanto, até mesmo no website oficial do GOB, vê-se duas versões distintas do selo, sendo uma com os três rochedos mencionados no Decreto, em ordem decrescente, da esquerda para a direita; e outro com um único rochedo.
E foi assim que, aquilo que era símbolo do Brasil e suas belezas naturais, que era cartão postal aos estrangeiros que chegavam à capital do Brasil por navios, o complexo de morros do Pão de Açúcar, tornou-se os três graus simbólicos, aos quais, importante lembrar, o GOB não se restringia até 1951. E os três não se abalam frente aos vícios, em forma de rebentação. Entretanto, Aprendizes, Companheiros e Mestres nunca foram ilustrados como morros, e os vícios nunca foram ilustrados como ondas, muito menos na Maçonaria, que adota simbologia baseada na construção.
Desse modo, o selo original do GOB era mais ou menos assim:
UPDATE:
Desde que publiquei o artigo, tenho recebido algumas reclamações de irmãos, alguns que aprecio muito, discordando de que os rochedos do selo original ilustravam o complexo do Pão de Açúcar. Pude perceber nos argumentos que se trata basicamente de anacronismo, ou seja, julgam o símbolo pela visão atual, e não da época. Prova disso, é que um deles chegou a comentar: “No original, não é o Pão de Açúcar, não! Ademais, o Pão de Açúcar é regional e não nacional, eu suponho”.
O selo de uma potência nacional costuma trazer alguma relação com a nação. Na primeira metade do século XIX, o Brasil ainda estava muito longe de se interiorizar, o Rio de Janeiro era a Capital Federal, e as viagens eram comumente feitas de navio. Não havia um brasileiro letrado que não precisasse ir ao Rio de Janeiro pelo menos uma vez na vida e praticamente não havia estrangeiros que chegassem ao Brasil sem ir ao Rio de Janeiro. Quase todos esses tinham por primeira vista o Pão de Açúcar. O Rio era o coração e o cérebro do país e o Pão de Açúcar era, com toda a certeza, um símbolo NACIONAL. Se tivessem que escolher uma beleza natural para ilustrar o Brasil naquela época, dificilmente seria outra que não o Pão de Açúcar.
Um desses irmãos chegou a me mandar um artigo a respeito, publicado posteriormente a este e claramente uma oposição ao mesmo. Em resumo, quanto ao Pão de Açúcar, o artigo conclui que “não há evidências de qualquer documento oficial emitido pelo próprio GOB, que faça alguma menção deste tipo”. E acham que eu verifiquei a posição dos Grão-Mestres Gerais Álvaro Palmeira e Moacyr Arbex, e do escritor Kurt Prober de onde? De um centro espírita? Foi de boletins oficiais do GOB. Então há documento oficial emitido pelo próprio GOB que faça menção a isso, sim… Além do mais, o artigo compartilhado traz uma informação que reforça ainda mais a afirmação de ser o Pão de Açúcar: o Selo utilizado pelo primeiro Grande Oriente Unido do Brasil, em 1872. Quando da fusão, eles tiveram que redesenhar o selo para incluir o termo “UNIDO” no nome. E isso um pouco mais de trinta anos do surgimento do selo original. E nesse redesenho, numa qualidade visual superior ao primeiro, vê-se, claramente, que se tratava do Pão de Açúcar: