O mundo está ficando menos inteligente. E isso não é uma afirmação vazia: nos últimos anos, dezenas de estudos realizados nos mais diferentes países têm mostrado que, após décadas de crescimento contínuo na inteligência média da população (o chamado Efeito Flynn), os resultados começaram a despencar.

O Efeito Flynn, ou seja, o aumento contínuo da inteligência média, era explicado pela melhoria no consumo de nutrientes, mais investimentos em educação e crescente estímulo nos ambientes sociais. E não coincidentemente, o aumento da inteligência média sempre esteve diretamente relacionado com o aumento do hábito de leitura.  

Já essa reversão no Efeito Flynn, ou seja, o emburrecimento geral, seria consequência de mudanças nos hábitos, com crianças, adolescentes e adultos a cada dia com mais horas diárias frente a uma tela (televisão, celular, computador, tablet), consumindo informação audiovisual em vez de leitura.

E por que a leitura estaria relacionada com a inteligência? Quando se lê, exige-se um esforço cognitivo maior para se compreender e imaginar do que o consumo audiovisual, que praticamente não exige esforço algum. É por isso que, para alguns, ler “dá sono”, mas maratonar uma série na TV, não. Ainda, a leitura gera um aumento de vocabulário, que também está diretamente relacionado à inteligência. Nós, humanos, somos seres sociais, com uma existência baseada em relações interpessoais, partindo da família, até a sociedade em geral. E toda interação é quase em sua totalidade feita por meio das palavras. Assim, quanto mais palavras você sabe, mais coisas (e mais complexas) aprende e compreende, e melhor se comunica. Com isso, tem-se uma evolução das ideias, teorias e, consequentemente, das ciências.

Se esse ritmo de queda na inteligência média continuar, acredita-se que a próxima geração de adultos ficará na média considerada “baixa inteligência” e que chamamos popularmente de “lesados”. No caso do Brasil, que tem em torno de 30% da população analfabeta funcional e enfrenta gradativa redução nos investimentos em educação, as consequências poderão ser desastrosas e permanentes.  Ainda mais, considerando a quantidade de livrarias que fecham suas portas todos os anos, o aumento absurdo no preço do papel e, se não bastasse, esforços governamentais para tributar livros, que eram isentos no Brasil desde a década de 40.

As consequências da redução na inteligência média já podem ser vistas por aí. Entre elas, alguns pesquisadores apontam o crescimento do “viés de confirmação”: quando pessoas somente acreditam naquilo que está de acordo com suas crenças e opiniões, rejeitando todos os fatos e argumentos racionais contrários. Isso leva à simplificação de questões complexas, polarização de temas originalmente multifacetados, proliferação de fake-news e de teorias conspiratórias, dentre outros males.

Sem inteligência, também não há senso crítico, que é a capacidade de analisar questões racionalmente, sem aceitar de modo automático as informações ou opiniões de terceiros. E sem senso crítico, não há a tão mencionada busca da verdade; bem como o combate à ignorância, à intolerância e ao fanatismo; ambos objetivos da Maçonaria.

Um indício claro da falta de senso crítico num ambiente maçônico é a adoção e repetição de termos prontos, mesmo quando fogem da normalidade. Por exemplo: “Eu estou Venerável Mestre da Loja XYZ”. Quem fala assim, “eu estou gerente da empresa tal”? O normal é “eu sou gerente da empresa tal”. É assim que adultos falam! Como tantos irmãos podem cair no argumento infantil de que isso parece ruim? O verbo “ser”, conjugado no presente, indica apresentação em determinada posição ou condição atual (que é o caso de um VM). Já o verbo “estar”, quando empregado assim, presume permanência breve e passageira: “estou na rua e logo chegarei em casa”. Não se aplica a um cargo que se ocupa por um ano ou mais!  

Outro exemplo é a condenação daqueles que dizem “ontem fui para reunião da minha loja”, pelo argumento, mais uma vez infantil, de que o termo “minha” é negativo, pois passa a ideia de que você é ou quer ser o dono da loja. Conforme o dicionário, “minha” também se refere a uma pessoa que pertence ou faz parte de algo. Ou seja, que não é dono, mas membro, como em uma Loja.

E como não mencionar o famoso e, ao mesmo tempo, falacioso termo “sou um eterno aprendiz”? Por que não mudamos então os nomes dos três graus simbólicos para Aprendiz I, Aprendiz II e Aprendiz III? Aprendiz é aquele que é novato em um ofício. Quando você tem mais de dez anos de Ordem, foi Venerável Mestre (“foi”, não “esteve”) e fala que é “um eterno aprendiz”, está apenas dizendo que é um falso modesto, que fere em seu discurso o sistema hierárquico educacional das antigas corporações de ofício, tão bem preservado na Maçonaria, apenas para parecer humilde.

E ainda há a clássica: “a Maçonaria é perfeita”. Então por que todo ano tem mudança na legislação maçônica e em algum ritual??? A Maçonaria não está em constante melhoria? Como uma instituição criada pelos homens pode ser perfeita? Se assim for, todas as instituições não são tão perfeitas quanto a Maçonaria? E para piorar, dessa nasceu aquela “mulher não entra na Maçonaria porque já é perfeita”. Tudo conversa pra boi dormir.  

Agora, exerça seu viés de confirmação e faça interpretações tendenciosas para defender a manutenção do uso desses termos, tão esdrúxulos à luz do menor senso crítico. Assim, apenas reforçará ainda mais esta teoria do Efeito Flynn Reverso na Maçonaria.