Em uma pesquisa realizada em 2018 para a CMI, com mais de 12 mil maçons brasileiros de todos os Estados e DF, e das três vertentes maçônicas brasileiros, diagnosticou-se um problema sério, porém discreto na Maçonaria brasileira: o conflito de gerações.

Em um gráfico que mais parecia os sutiãs da Madona, via-se nitidamente as duas gerações: a dominante, de mais de 2/3 dos maçons brasileiros, de mais de 50 anos de idade, com concentração se aproximado dos 60 anos, majoritariamente educados pelo sistema tradicional de ensino, tendo parcela considerável com baixa escolaridade ou escolaridade tardia, e sem hábito de leitura; e a dos novos entrantes, de menos de 1/3 do povo maçônico, ingressos nos últimos anos, com menos de 50 anos, sendo a maioria com menos de 40 anos de idade, educados nos sistemas surgidos a partir das reformas educacionais iniciadas na década de 70, e melhor acesso acadêmico e literário.

A diferença sociocultural dessas duas gerações está intimamente ligada com a história mais recente do nosso país, desde o chamado “milagre econômico” da década de 70; a adoção de novos métodos pedagógicos no ensino fundamental, como Construtivista, Freiriano, Montessoriano, Piagetiano, na década de 80; até a maior flexibilização nas normas do Ensino Superior, gerando o boom de faculdades particulares, na década de 90.

Assim, tem-se uma geração de novos entrantes mais pragmática, crítica e questionadora, tanto sobre o que ouve quanto sobre o que lê, subordinada a uma geração dominante mais tradicionalista. E os resultados da pesquisa indicaram que essa geração dominante não vê com bons olhos a nova geração, acreditando que ingressam na Maçonaria apenas em busca de networking e benefícios, e que estão querendo inovar a Maçonaria e expô-la na internet e redes sociais.

Acontece que, enquanto há maioria de membros na geração dominante, que envelhece a cada dia, a nova geração concentra praticamente toda a evasão maçônica, o que dificulta a renovação dos quadros, que poderia garantir a manutenção das organizações maçônicas a longo prazo. E como agravante, há a institucionalização dessa opressão silenciosa. Como exemplo, há potências que criam regras que vetam os novos entrantes do direito a voz, apesar desses pagarem as mesmas taxas que qualquer outro membro.   

Nesse contexto está a Ordem DeMolay, existente no país há mais de 40 anos, durante os quais foi copiosamente chamada pelas lideranças maçônicas de “o futuro da Maçonaria”. De fato, esse futuro está se tornando o presente, pois já se teve e tem alguns Grão-Mestres de Grandes Lojas oriundos da Ordem DeMolay: Cassiano na GLMDF, Alexandre na GLMET, Tadeu na GLMERGS, Hook na GLMERN. E há ainda outras boas promessas para a próxima safra.

Com um número cada vez mais crescente de DeMolays na Maçonaria, não é raro escutar depoimentos de que o DeMolay Sênior que é Maçom tem responsabilidade redobrada, pois qualquer comportamento questionável seu respinga maçonicamente também na Ordem DeMolay.

Para ilustrar, compartilho o que escutei no último sábado de uma liderança maçônica. O irmão contou de um maçom que é DeMolay Sênior e, ao escutar algo que não gostou em uma Câmara do Meio, retirou o avental da cintura e saiu da reunião. Com base nisso, sugeriu que talvez os DeMolays não possuem o perfil que se espera na Maçonaria.

Então, contei de um velho maçom que, enquanto presidia a sessão, irritou-se com um irmão sentado à coluna do sul e arremessou o malhete em sua direção. Esse velho maçom não era um DeMolay Sênior, mas um oficial das Forças Armadas. Por um acaso, caberia sugerir que talvez os militares não possuem o perfil que se espera na Maçonaria?

Há imbecis de todas as idades e em todas as áreas de atuação. O maior erro que podemos cometer é generalizar.

Por outro lado, há um comportamento comum entre alguns DeMolays Seniores que ingressam na Maçonaria, e que não colabora para a redução desse conflito: a PERCEPÇÃO DE TEMPO. A média de idade dos que ingressam na Ordem DeMolay é por volta dos 15 e 16 anos. Isso dá apenas cinco a seis “anos de vida” ao DeMolay Ativo, que se torna um Sênior aos 21 anos, não podendo mais ocupar cargos juvenis na organização. Então, aqueles jovens com perfis de liderança correm contra o tempo para alcançar os postos que almejam na organização.

Quando esses jovens, com seus vinte e poucos anos, ingressam na Maçonaria, eles provavelmente terão uns cinquenta “anos de vida” na instituição. São dez vezes mais do que a média de tempo ativo na Ordem DeMolay. Em outras palavras, o tempo na Maçonaria corre diferente do tempo na Ordem DeMolay. Contudo, são muitos os jovens que não conseguem virar essa chave, desejando manter na Maçonaria o mesmo ritmo de evolução nos cargos que foi vivenciado na Ordem DeMolay. E isso apenas gera ainda mais conflitos e alimenta ainda mais as generalizações.

Todas essas generalizações, de que DeMolay é isso e “bode velho” é aquilo, são reflexos desse conflito de gerações, e é exatamente o que precisamos combater por meio da educação de TODOS. A Tolerância é um dos principais pilares da Maçonaria Simbólica e talvez seja exatamente o que tem faltado em muitos irmãos. Como escola de moralidade que somos, temos a obrigação de ensinar essa importante lição. Nosso futuro depende disso.