OS DIÁCONOS NA MAÇONARIA

OS DIÁCONOS NA MAÇONARIA

Os diáconos são cargos antigos, tendo sido herdados da Maçonaria Operativa, conforme se verifica no 1º Estatuto de Schaw, de 1598: “que eles obedeçam aos seus Vigilantes, Diáconos e Mestres em todas as coisas referentes a seu ofício”.[i]  

Em algumas jurisdições, enquanto o Primeiro Diácono serve como assistente do Venerável Mestre, e o Segundo Diácono como assistente do Primeiro Vigilante, esses são os cargos hierarquicamente mais importantes da Loja após os três principais dirigentes, ocupando, assim, a quarta e a quinta posições de linhas sucessórias.[ii]

Um pombo com um ramo em seu bico é a insígnia dos diáconos em alguns dos ritos maçônicos trabalhados regularmente no Brasil. No caso das Grandes Lojas brasileiras, há ainda um triângulo em torno do pombo, para diferenciar o Primeiro Diácono do Segundo.

Esse símbolo como referência aos diáconos passou a ser adotado a partir da Inglaterra, tomando emprestado a simbologia bíblica contida na lenda de Noé, que teria enviado um pombo para encontrar terra firme após o dilúvio. Assim, o pombo é símbolo da função de levar as ordens a outras partes da loja. Não por acaso, a palavra “Diácono” vem do grego, “Diakonos”, que designa um servo, ajudante ou mensageiro.  

Não por acaso, outra opção de símbolo para o Diácono, menos comum no reino britânico, é a de Mercúrio, justamente por ser personificado na imagem de um mensageiro, por ser este o Mensageiro dos Deuses. O uso de Mercúrio nos bastões ainda pode ser observado em lojas antigas, visto que a adoção de Mercúrio como símbolo do Diácono foi anterior à do pombo.[iii]  

Sabe-se que, pelo menos em 1760, a prática do Venerável Mestre sussurrar algo ao Primeiro Diácono, que se dirige ao Primeiro Vigilante e transmite de igual modo a este, e este ao Segundo Diácono para que comunique de modo igual ao Segundo Vigilante, era algo presente em rituais ingleses.[iv]

Apesar dessa prática ter desaparecido na Inglaterra, provavelmente quando da fusão das duas Grandes Lojas rivais, ela sobreviveu em rituais que tomaram esses anteriores por base, como é o caso do Rito Escocês Antigo e Aceito. Sua execução serve como um belo exemplo do antigo papel de mensageiro exercido pelos Diáconos, já que em alguns rituais atuais, os Diáconos realizam outras tantas atividades, mas perderam a essência de mensageiros.  


[i] COOPER, R. L. D. Revelando o Código da Maçonaria. São Paulo: Madras, 2009, p. 201.

[ii] COIL, H. W.; BROWN, W. M. Coil’s Masonic Encyclopedia. New York: Macoy, 1961, p. 156.

[iii] CARR, H. O Ofício do Maçom. São Paulo: Madras, 2012, 213-214.

[iv] e.g.: The Three Distinct Knocks. Dublin: Thomas Wilkinson, 1760, p. 30.

ATRAVESSANDO AS COLUNAS

ATRAVESSANDO AS COLUNAS

As Colunas J e B estão presentes na decoração de praticamente todos os templos e salas de loja maçônica do mundo, seja fisicamente ou, pelo menos, em ilustração.

Apresentadas de diferentes formas e em diferentes lugares, os significados dos elementos que as compõem e as razões de suas apresentações, de certo modo distintas das descrições bíblicas, costumam gerar dúvidas a muitos maçons.

Sendo, junto de outros como o esquadro e o compasso, a pedra bruta e a polida, o pavimento mosaico e a estrela flamígera, um dos elementos simbólicos mais comuns à Maçonaria Universal, é de fundamental importância que seu estudo seja estimulado, de forma que o entendimento a respeito ultrapasse o conhecimento raso de apenas saber seus nomes e lugares em loja.

Para ler o artigo, CLIQUE AQUI.

Desvendando o selo do GOB

Desvendando o selo do GOB

O selo do Grande Oriente do Brasil é um belo exemplo de como a literatura maçônica brasileira é feita de forma reversa, ou seja, busca-se inventar ao símbolo significados diferentes do original, o que é extremamente mais fácil do que pesquisar seu significado original e preservá-lo. E assim, o significado original se perde…

Não pretende-se aqui tratar do moto em latim, da Constelação e a Lua, e da Estrela Flamejante, presentes no selo, mas de seu elemento central e pano de fundo, ilustrado por um relevo montanhoso banhado pelo mar.

Em 1967, o GMG e professor Álvaro Palmeira revelou que o selo do GOB somente surgiu em 1838, após o falecimento de José Bonifácio. E como se pode ver nos primeiros registros em que ele aparece, o rochedo ilustrado era o complexo do Pão de Açúcar visto pelo lado de Niterói, em que se vê, além do Morro do Pão de Açúcar, os morros da Urca, da Babilônia e do Leme. Evidentemente, com as limitações gráficas da época.  

Na gestão do GMG seguinte, Moacyr Arbex, e a seu pedido, Kurt Prober, que era autoridade em timbres, selos e medalhas no GOB, concordou com o Irmão Palmeira e ainda observou, com seu vocabulário característico, que nos emblemas originais não se via os três ou quatro picos elevados, “que foram sendo “cada vez mais pronunciados e destacados no correr dos anos, principalmente de 1900 para cá, numa série de novos timbres esdrúxulos e mesmo ridículos”.

Nada mais natural do que escolher o complexo de morros do Pão de Açúcar para ilustrar o selo, numa época em que o Rio de Janeiro era a Capital Federal e outros símbolos da cidade, como o Cristo Redentor, ainda não existiam. O Pão de Açúcar era o monumento natural do Brasil para os estrangeiros, que chegavam em navios ao país via Porto do Rio de Janeiro. A visão do Pão de Açúcar “por trás” e não pela visão tradicional da Praia de Botafogo, era o ponto de vista de todos os navios que chegavam à Baía de Guanabara. Mas também pode ter sido adotado em homenagem a José Bonifácio, que passou seus últimos anos em Niterói. Isso também faria sentido, considerando que as decisões do GOB eram tomadas lá nesse período e que sua residência provavelmente permitia tal visão do Pão de Açúcar.

Os selos das potências maçônicas geralmente apresentam alguma relação simbólica com a jurisdição das mesmas. Isso pode ser representado pela inclusão da silhueta do mapa do território, pelo uso das cores da bandeira, ou a inclusão de um símbolo característico do local. O selo do Grande Oriente do Brasil trazia originalmente o Pão de Açúcar. Similarmente, os selos do GOSC e do GOB-SC, por exemplo, apresentam a ponte que é símbolo de Florianópolis, capital daquele estado.

Mas, como tudo na Maçonaria brasileira, os registros são mal feitos e mal cuidados, às vezes até perdendo-se com o tempo. E, quando necessária uma explicação, é mais fácil e mais rápido inventá-la do que pesquisá-la. Sem uma referência e com as modificações mencionadas por Prober, o selo do GOB foi distanciando-se drasticamente de sua forma original.

Já na gestão de Francisco Murilo Pinto, o selo foi alvo do Decreto 0085, de 20 de novembro de 1997. Nele, registra-se “três rochedos, batidos por ondas violentas”, sendo esses três rochedos símbolos dos “três graus simbólicos”, sendo o Mestre o maior dos três. As ondas do mar representam “os vícios, os maus costumes, os inimigos”, mas a Maçonaria, representada pelos rochedos, “não se deixa abater”. Entretanto, até mesmo no website oficial do GOB, vê-se duas versões distintas do selo, sendo uma com os três rochedos mencionados no Decreto, em ordem decrescente, da esquerda para a direita; e outro com um único rochedo.

E foi assim que, aquilo que era símbolo do Brasil e suas belezas naturais, que era cartão postal aos estrangeiros que chegavam à capital do Brasil por navios, o complexo de morros do Pão de Açúcar, tornou-se os três graus simbólicos, aos quais, importante lembrar, o GOB não se restringia até 1951. E os três não se abalam frente aos vícios, em forma de rebentação. Entretanto, Aprendizes, Companheiros e Mestres nunca foram ilustrados como morros, e os vícios nunca foram ilustrados como ondas, muito menos na Maçonaria, que adota simbologia baseada na construção.

Desse modo, o selo original do GOB era mais ou menos assim:

UPDATE:

Desde que publiquei o artigo, tenho recebido algumas reclamações de irmãos, alguns que aprecio muito, discordando de que os rochedos do selo original ilustravam o complexo do Pão de Açúcar. Pude perceber nos argumentos que se trata basicamente de anacronismo, ou seja, julgam o símbolo pela visão atual, e não da época. Prova disso, é que um deles chegou a comentar: “No original, não é o Pão de Açúcar, não! Ademais, o Pão de Açúcar é regional e não nacional, eu suponho”.

O selo de uma potência nacional costuma trazer alguma relação com a nação. Na primeira metade do século XIX, o Brasil ainda estava muito longe de se interiorizar, o Rio de Janeiro era a Capital Federal, e as viagens eram comumente feitas de navio. Não havia um brasileiro letrado que não precisasse ir ao Rio de Janeiro pelo menos uma vez na vida e praticamente não havia estrangeiros que chegassem ao Brasil sem ir ao Rio de Janeiro. Quase todos esses tinham por primeira vista o Pão de Açúcar. O Rio era o coração e o cérebro do país e o Pão de Açúcar era, com toda a certeza, um símbolo NACIONAL. Se tivessem que escolher uma beleza natural para ilustrar o Brasil naquela época, dificilmente seria outra que não o Pão de Açúcar.

Um desses irmãos chegou a me mandar um artigo a respeito, publicado posteriormente a este e claramente uma oposição ao mesmo. Em resumo, quanto ao Pão de Açúcar, o artigo conclui que “não há evidências de qualquer documento oficial emitido pelo próprio GOB, que faça alguma menção deste tipo”. E acham que eu verifiquei a posição dos Grão-Mestres Gerais Álvaro Palmeira e Moacyr Arbex, e do escritor Kurt Prober de onde? De um centro espírita? Foi de boletins oficiais do GOB. Então há documento oficial emitido pelo próprio GOB que faça menção a isso, sim… Além do mais, o artigo compartilhado traz uma informação que reforça ainda mais a afirmação de ser o Pão de Açúcar: o Selo utilizado pelo primeiro Grande Oriente Unido do Brasil, em 1872. Quando da fusão, eles tiveram que redesenhar o selo para incluir o termo “UNIDO” no nome. E isso um pouco mais de trinta anos do surgimento do selo original. E nesse redesenho, numa qualidade visual superior ao primeiro, vê-se, claramente, que se tratava do Pão de Açúcar:

ICONOGRAFIA: Brasão da Escola No Esquadro

ICONOGRAFIA: Brasão da Escola No Esquadro

A Escola No Esquadro inspirou-se na iconografia do Rito Escocês Antigo e Aceito ao desenvolver seu brasão, o qual é formado por uma coruja de asas abertas, cujas pontas apontam para cima; tendo acima de sua cabeça o chamado Olho da Providência. Suas garras estão sobre uma espada decorada com uma fita pendente, desde a base de sua lâmina até próximo da ponta. Na fita, lê-se “LUZ NA MAÇONARIA”. Abaixo, aparece seu nome distintivo: Escola No Esquadro.

Tomando a coruja por elemento central, tem-se a transmissão de seu significado simbólico de conhecimento, inteligência e sabedoria, diretamente relacionados ao conceito educacional. Sabe-se que na mitologia grega, Atena, deusa da sabedoria, possuía uma coruja de estimação que também a representava simbolicamente. Os romanos renomearam Atena como Minerva, dando à sua coruja um papel protagonista em sua história.

Muito se pode refletir sobre a escolha da coruja como símbolo do conhecimento. Como um animal noturno, a coruja está ativa, atenta e observadora. Trata-se da habilidade de enxergar o oculto, explorando a mínima luz em plena escuridão. Não seria à toa que os gregos utilizavam do termo “gláuks” para se referir à coruja, que significa “cintilante”, ou seja, que irradia luz.

As asas da coruja aberta, com as pontas voltadas para cima, transmitem a ideia de alçar voo, ou seja, de ascender-se, simbolizando a elevação, o desenvolvimento, a evolução intelectual e moral do maçom por meio da educação maçônica, dessa busca de luz na Maçonaria.

E logo acima da cabeça da coruja está o Olho da Providência, ilustrado pela forma tradicional, que também é a adotada pela Maçonaria: contido em um triângulo. Está presente como um lembrete de que a evolução é um ato de aproximar-se Dele, o Grande Arquiteto do Universo, que emana toda a Luz. Assim, a ascensão é em Sua direção, sabendo-se que não se pode alcança-Lo, como se fosse possível alcançar a perfeição, mas deve-se sempre evoluir, aperfeiçoar-se. O Olho da Providência também nos recorda de que a Maçonaria é uma ciência de moralidade eminentemente teísta, em que a busca da verdade e a fé são compatíveis e, em muitos sentidos, entrelaçam-se e interagem entre si.

A espada sob as garras da coruja simboliza a luta do maçom em busca de conhecimento (luz) contra a ignorância, a intolerância e o fanatismo, três inimigos da sabedoria que leva à verdade. E a fita pendente que a decora, inscrita com o moto da Escola No Esquadro, “Luz na Maçonaria”, faz menção à simbologia da busca por luz para ilustrar a busca da verdade, simbologia essa muito bem explorada pela Maçonaria.

Por fim, seu nome distintivo, “Escola No Esquadro”, remonta a esse termo, tão comumente presente nos escritos maçônicos: “no esquadro”, tradução do termo em inglês “on the square”. O termo “no esquadro” está relacionado ao que é correto e à confiança, já que uma peça no esquadro significa uma peça feita corretamente, que pode servir como base e modelo para outras peças, e devidamente utilizada na construção. Assim, um maçom que está “no esquadro” é honesto e confiável, podendo servir como modelo a ser seguido dentro e fora da Maçonaria.

O nome “Escola No Esquadro” é apresentado em uma grafia que tem por característica a presença de vários ângulos retos, o que harmoniza com o nome, considerando que o esquadro é a ferramenta que proporciona tal ângulo; e passa a ideia de solidez pela largura de seus traços ilustrados como fortes linhas retas, o que também harmoniza com o significado maçônico do termo “no esquadro” de honestidade e confiança, ou seja, de retidão, que é uma base forte para qualquer construção, em especial as sociais.

 

Kennyo Ismail

 

 

 

P.S.: A arte do brasão foi desenvolvida pelo Irmão Cássio Xavier, que teve a capacidade de elaborar o design com base nos conceitos e ideias apresentados, e a paciência para atender todos os pedidos de testes e modificações. Registramos aqui o nosso mais sincero agradecimento.

A BALAUSTRADA

A BALAUSTRADA

P6090066Muitos irmãos já divagaram sobre a origem e o simbolismo da balaustrada, também chamada em alguns rituais de “grade da razão”. A imaginação chega a tanto que há quem defenda que a balaustrada é uma espécie de portal pelo qual o maçom, ao atravessar, sai do mundo do si mesmo e conquista o terreno dos sonhos, do inconsciente, da espiritualidade, dos mistérios e da magia. Deve ser por isso que de vez em quando nos deparamos com irmãos dormindo no Oriente! Mas voltemos à vida real.

A balaustrada é formada por uma sequência de balaústres que suspendem um corrimão. Suas primeiras aparições foram encontradas no que se sabe sobre os templos assírios. Balaustradas não estão presentes nas construções gregas e romanas, mas reapareceram a partir do Século XV, inicialmente em palácios de Veneza e Verona, provavelmente influência da cultura árabe, por conta da dominação muçulmana na península ibérica. Seu uso mais amplo na Europa teve início no século seguinte, sendo adotado por artistas como Michelangelo. No século XVI, balaustradas foram largamente utilizadas na construção de basílicas e catedrais e, a partir daí, ganhou espaço na ornamentação de igrejas, servindo como delimitador entre a nave (ocidente) e o presbitério (oriente), num nível mais elevado. É junto da balaustrada que os fiéis recebem a comunhão.

Para compreendermos a razão da presença da balaustrada nos templos maçônicos dos ritos de origem francesa e seus derivados (Escocês, Adonhiramita, Moderno, Brasileiro), precisamos, inicialmente, realizar algumas considerações pertinentes sobre “templos” maçônicos.

Como é do conhecimento de todo maçom, a Maçonaria não surgiu em templos. As primeiras Lojas que se tem notícia não se reuniam em locais sagrados, mas sim em aposentos nos fundos ou em cima de tavernas, botecos, hotéis, canteiros de obras, etc. Enfim, locais não muito “sagrados”, bem distintos dos “templos” maçônicos que se tem hoje por aí, nos quais alguns maçons conservadores não deixam nem mesmo um(a) profano(a) realizar a limpeza, por risco de profanar o solo maçônico sagrado, colocando os Aprendizes para exercerem a tarefa da limpeza.

Foi por volta da década de 60 do Século XVIII que surgiram os primeiros imóveis construídos com objetivo exclusivo de funcionamento de Lojas Maçônicas, ainda na Inglaterra. A iniciativa de tal movimento é creditada aos líderes maçons William Preston, James Heseltine e Thomas Dunckerley.[1] Mas esses imóveis não foram chamados de Templos, nem passaram por cerimônias de sagração. Aliás, até hoje não são chamados de Templos e não são sagrados, porque mantém o significado original dos locais de reuniões dos maçons. São conhecidos por Lodge Room (Sala da Loja). Em outras palavras, são apenas aposentos de reuniões maçônicas, assim como eram quando em tavernas, por exemplo. A diferença é que, com as construções próprias, o local fica mais bem guardado dos não maçons e não precisa ser preparado e desmanchado a cada reunião.

Na mesma década, movimento similar teve início na Maçonaria francesa. Aparentemente, o primeiro local construído para uso exclusivamente maçônico na França foi em Marselha, a cidade mais antiga daquele país, em 1765.[2] A diferença entre o movimento de construções maçônicas na Inglaterra e EUA para a França no Século XVIII foi a de que a França é um país predominantemente católico e a influência religiosa teve papel fundamental na concepção e ornamentação das construções.

A influência católica na Maçonaria francesa pode ser observada, por exemplo, no uso da nomenclatura “templo” e seu processo de inauguração. Baseado na Igreja, o local de reuniões maçônicas passou a ser considerado um templo, necessitando, portanto, de passar por uma sagração, costume esse comum à Igreja Católica Apostólica Romana, mas inexistente em muitas outras igrejas. Reforçando, não se trata de uma prática originalmente maçônica, mas sim religiosa.

Tal influência também é explícita na arquitetura da Loja. Tradicionalmente, as portas que dão acesso à Sala da Loja (templo) devem ser angulares, pois uma entrada reta (no eixo da Loja, de frente ao Oriente) “não é maçônica e não pode ser tolerada”.[3] Assim é nas Lojas inglesas e norte-americanas, por exemplo. Porém, a Maçonaria francesa adotou uma porta central, assim como nas igrejas. Outra característica é quanto ao piso da Loja, originalmente com o Oriente e o Ocidente no mesmo nível, tendo apenas as estações do Venerável, 1º e 2º Vigilantes contendo degraus. Entretanto, a Maçonaria francesa, também copiando a arquitetura de igrejas, adotou oriente mais elevado, com balaustradas delimitando.

Outras influências católicas menos perceptíveis são evidenciadas no uso de incenso, ao denominar o posto do Venerável Mestre de “altar”, na presença do “mar de bronze” para purificação, entre outras. E a partir da presença física de tais influências em Loja, iniciou-se o “brainstorming” permanente dos ritualistas, um exercício eterno de imaginação para conferir interpretações aos mesmos.



[1] SADLER, H. Thomas Dunckerley, His Life, Labours, and Letters, Including Some Masonic and Naval Memorials of the 18th Century. Londres: Diprose & Bateman, 1891.

[2] SMITH, G. The Use and Abuse of Freemasonry. New York: Masonic Publishing and Manufacturing, 1783, p. 165.

[3] MACKEY, A. Encyclopedia of Freemasonry. New York: The Masonic History Company, 1914, p. 315-316.

OS “MARTELOS” NA MAÇONARIA

OS “MARTELOS” NA MAÇONARIA

O martelo maçônico, conforme Mackey, é uma das ferramentas de trabalho de um Aprendiz, usado pelo maçom operativo para cortar os cantos da pedra bruta, transformando-a em cúbica, formato esse útil para a construção. Como se pode observar, o martelo é utilizado para cortar a pedra, sem o auxílio de qualquer outro instrumento, tendo por esse motivo uma cabeça retangular com um lado plano e outro fino, estreito. Esse é o verdadeiro martelo maçônico, que pode ser chamado de martelo de corte.

Maço

Talvez você esteja pensando: “Mas as ferramentas utilizadas para transformar a pedra bruta em cúbica são o maço e o cinzel!” Negativo. O maço e o cinzel não são usados para trabalhar a pedra bruta e não são originalmente ferramentas de um Aprendiz Maçom, visto que, na realidade, são ferramentas utilizadas para trabalhos de acabamento, para os quais um Aprendiz não está habilitado. Por esse motivo, nos ritos mais antigos, são instrumentos de um Companheiro Maçom. O maço tem ainda a função de alinhar as pedras cúbicas quando se levanta uma parede ou muro, além de uma pequena, rápida e triste participação no grau de Mestre Maçom.

Malhete

Várias Lojas mais tradicionais em diferentes países se recusam a utilizar os malhetes atuais, aqueles comumente utilizados por juízes e leiloeiros e que se tornaram populares na Maçonaria, declarando que os malhetes nada tem com a história e simbologia maçônica, sendo, portanto, inadequados para o uso em Loja. Em vez desses, essas Lojas utilizam versões simbólicas do martelo maçônico tradicional, o martelo de corte.

Se sua Loja está pensando em renovar alguns utensílios, a substituição dos malhetes por martelos de corte pode ser uma boa opção: além de barata, promoverá um aspecto mais próximo das origens operativas.