OS CALENDÁRIOS MAÇÔNICOS E SUAS CORRETAS APLICAÇÕES

OS CALENDÁRIOS MAÇÔNICOS E SUAS CORRETAS APLICAÇÕES

masonicwatchA Maçonaria possui diferentes tipos de calendários, usados nos mais diversos ritos e épocas, cada um com sua própria lógica e significados. Porém, isso tem gerado certas confusões históricas, principalmente no Brasil, com sua pluralidade de Ritos e carência de registros legais disponíveis, de bibliotecas maçônicas e, principalmente, de literatura maçônica de qualidade.

Nesse cenário caótico, muitas vezes as Obediências Maçônicas, Lojas e demais corpos maçônicos brasileiros encontram dificuldades e não encontram consenso na adoção dos calendários utilizados em seus certificados.

Pensando nisso, este artigo tem por objetivo disponibilizar uma relação dos tipos de calendários maçônicos existentes e seus mecanismos de funcionamento, de forma a esclarecer de uma vez por todas esse tema, disponibilizando aos interessados, sejam estudiosos de Maçonaria ou secretários com a missão de confeccionar diplomas, acesso a informação organizada e confiável.

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MAÇONARIA & ILUMINISMO

MAÇONARIA & ILUMINISMO

Muito se diz sobre a relação da Maçonaria com o Iluminismo. Mas até onde realmente foi essa relação? Teria o Iluminismo influenciado a Maçonaria, ou a Maçonaria influenciado o Iluminismo? Seria mesmo a Maçonaria precursora da democracia?

Kramnick[i]  resumiu bem a intenção do movimento iluminista ao declarar que sua ideia central era a de que a razão, e não a fé ou a tradição, que deveria constituir o principal guia para a conduta humana. E onde a Maçonaria entra nisso? Estudos de importantes historiadores têm relacionado a Maçonaria com o Iluminismo e creditado à instituição o princípio da igualdade entre os homens, embrionário do movimento democrático[ii] [iii] [iv], creditando-a também o papel de protagonista de revoluções, como a Revolução Francesa[v]. Um dos principais pensadores do iluminismo, o filósofo alemão Immanuel Kant[vi], compreendeu essa vocação das Lojas Maçônicas como uma vocação natural, de homens de bem se unindo e se comunicando com seus semelhantes sobre questões que afetam a humanidade como um todo. Habermas[vii], famoso filósofo alemão da escola crítica, coaduna com tal pensamento, ao registrar sua leitura do período iluminista:

A promulgação secreta do iluminismo, típica das Lojas, mas também amplamente praticada por outras associações e Tisclzgesellschaften, tinha um caráter dialético. Razão pela qual o uso público da faculdade racional a ser realizado na comunicação racional de um público composto por seres humanos cultos, em si precisava ser protegido de se tornar público porque era uma ameaça para todas e qualquer relações de dominação. Enquanto a publicidade tinha a sua sede nas chancelarias secretas do príncipe, a razão não podia revelar-se diretamente. Sua esfera de publicidade ainda tinha que confiar no sigilo; seu público, até mesmo como um público, permaneceu interno. A luz da razão, assim velada de autoproteção, foi revelada em etapas. Isso lembra a famosa declaração de Lessing sobre a Maçonaria, que na época era um fenômeno europeu mais amplo: ela era tão antiga quanto a sociedade burguesa – “se de fato a sociedade burguesa não é apenas a prole de Maçonaria” (The Structural Transformation of the Public Sphere, Habermas, 1989, p. 35).

Em reforço à teoria da Maçonaria como berço do Iluminismo e uma instituição emancipadora do indivíduo por meio da razão, tem-se o fato de que a Maçonaria, anteriormente ao movimento iluminista, já praticava uma forma de governança democrática por séculos, na qual o voto já era bem do indivíduo e não por propriedade ou localidade[viii] [ix].

Estudos indicam que essa ameaça maçônica ao absolutismo foi motivadora de respostas como o decreto de Luis XV, em 1737, proibindo conselheiros reais e administradores públicos de pertencer a Lojas Maçônicas, assim como o início da perseguição da Maçonaria pela Igreja Católica, pelo decreto do Papa Clemente XII, em 1740, proibindo os católicos do ingresso à Maçonaria e ordenando ao clero o seu combate[x].

Já Bullock[xi] evidencia em sua obra que, seguindo essa vocação que impulsionou o iluminismo, de emancipadora do homem pela razão, a Maçonaria realizou movimentos semelhantes nas colônias do Continente Americano, colaborando para a independência dos Estados Unidos e dos países latino-americanos. No caso da Revolução Americana de 1776, Morel e Souza[xii] afirmam que “é inegável a militância maçônica de líderes como Benjamin Franklin, George Washington e La Fayette”. Essa militância maçônica inegável pode ser constatada pela declaração de independência americana na qual, conforme Gomes[xiii], “dos 56 homens que assinaram a declaração de independência, cinquenta eram maçons”.

Morel e Souza[xiv] também indicam a presença maçônica na independência da América Espanhola, relacionando alguns libertadores da América como maçons:

Neste caso, ressalta-se a atuação do precursor dos movimentos de independência, Francisco Antônio Gabriel de Miranda y Rodrigues. Este, após ser iniciado na maçonaria dos Estados Unidos, fundou em Londres a Logia Gran Reunión Americana, destinada a preparar militantes para lutar pela independência da América espanhola. Esta Loja foi um foco de expansão do ideal de independência, tendo preparado lideranças como Bernardo O’Higins, Simón Bolívar, Antônio Narino e José de San Martin (O Poder da Maçonaria, MOREL & SOUZA, 2008, p. 44).

Com base em tais passagens, pode-se propor que a Maçonaria realmente colaborou com o desenvolvimento do iluminismo e, munida do mais profundo princípio de igualdade entre os homens, emprestou seu conceito e experiência de democracia à sociedade contemporânea então recentemente instalada. E, por sinal, instalada graças à liderança libertadora de seus membros.


NOTAS:

[i] KRAMNICK, I. The Portable Enlightenment Reader. Harmondsworth: Penguin, 1995.

[ii] WEISBERGER, R. W. Speculative Freemasonry and the Enlightenment. A Study of the Craft in London, Paris, Prague, and Vienna. New York: Columbia University Press, 1993.

[iii] JACOB, M. C. The Radical Enlightenment: Pantheists, Freemasons and Republicans. Cornerstone Book Publishers, Lafayette, Louisiana. 2006.

[iv] ELLIOTT, P. & DANIELS, S. The “school of true, useful and universal science”? Freemasonry, natural philosophy and scientific culture in eighteenthcentury England. The British Journal for the History of Science, 39, 2006, pp 207-229.

[v] SCHMIDT, J. What is Enlightenment? Eighteenth-Century Answers and Twentieth-Century Questions. Berkeley, CA: University of California Press, 1996, pp. 1-44.

[vi] KANT, I. The Metaphysical Elements of Justice; Part I of the Metaphysics of Morals. 2nd ed. Tradução: John Ladd. Indianapolis: Bobbs-Merrill, 1999.

[vii] HABERMAS, J. The Structural Transformation of the Public Sphere: An Inquiry into a Category of Bourgeois Society. Cambridge, MA: MIT Press, 1989.

[viii] JACOB, M. C. Living the Enlightenment: Freemasonry and Politics in Eighteenth-Century Europe. New York: Oxford University Press, 1991.

[ix] MOREL, Marco & SOUZA, Françoise Jean de Oliveira. O poder da maçonaria: a história de uma sociedade secreta no Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.

[x] MEHIGAN, T. & De BURGH, H. “Aufklärung”, freemasonry, the public sphere and the question of Enlightenment. Journal of European Studies 38(1): 2008,p. 5–25.

[xi] BULLOCK, S. C. Revolutionary Brotherhood: Freemasonry and the Transformation of the American Social Order, 1730–1840, Chapel Hill, 1996.

[xii] MOREL, Marco & SOUZA, Françoise Jean de Oliveira. O poder da maçonaria: a história de uma sociedade secreta no Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.

[xiii] GOMES, Laurentino. 1822: como um homem sábio, uma princesa triste e um escocês louco por dinheiro ajudaram D. Pedro a criar o Brasil, um país que tinha tudo para dar errado. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2010.

[xiv] MOREL, Marco & SOUZA, Françoise Jean de Oliveira. O poder da maçonaria: a história de uma sociedade secreta no Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.

INDEPENDÊNCIA OU MORTE

INDEPENDÊNCIA OU MORTE

Sete de Setembro de 1822, data em que Dom Pedro I, às margens do Rio Ipiranga, deu o famoso Grito de “Independência ou Morte”, livrando simbolicamente o Brasil das amarras portuguesas. Tal episódio é alvo de inúmeros questionamentos sobre veracidade, forma e motivações por parte dos historiadores.

Entre os maçons, a corrente predominante defende que tal episódio ocorreu em consequência direta daquela tão discutida reunião maçônica de 20 de Agosto de 1822, presidida por Gonçalves Ledo, em que a Independência do Brasil teria sido antecipadamente proclamada pelos influentes líderes políticos e sociais que ali se reuniam.

Fato interessante acerca do Grito de Independência, comumente presente na literatura (maçônica e até não maçônica) sobre o tema, é quanto ao significado da divisa “Independência ou Morte”. Há aqueles que atribuem a ela um significado maçônico ou, no mínimo, esotérico, ligando-a principalmente à Sociedade Secreta conhecida como “Apostolado”.

O nome do Apostolado na verdade era “Nobre Ordem dos Cavaleiros da Santa Cruz”, uma sociedade secreta baseada na Maçonaria, porém, de caráter cristão, fundada por José Bonifácio com o intuito de fazer frente às iniciativas maçônicas do grupo de Gonçalves Ledo, que pareciam mais fortes a cada dia. O Apostolado defendia a bandeira política de uma monarquia constitucionalista e José Bonifácio alcançou seu objetivo de ingressar Dom Pedro I na mesma.

Muitos são os autores que atribuem o termo do Grito de Independência ao Apostolado, considerando a possibilidade de Dom Pedro I ter se lembrado do conteúdo de uma palestra (instrução) da Nobre Ordem quando efetuou o grito. Não faltam livros publicados que defendem tal teoria. Porém, há apenas um pequeno detalhe que parece ter sido desconsiderado por esses proponentes. O historiador Alexandre Mansur Barata, em sua obra “Maçonaria, Sociabilidade Ilustrada & Independência do Brasil”, publicado pela Editora UFJF, em 2006, registra que uma das palestras do Apostolado só foi nomeada como “Independência ou Morte” em fevereiro de 1823, ou seja, quase 06 meses depois do Grito de Independência. Isso sugere que, mais fácil do que uma palestra do Apostolado ter influenciado no Grito, seria o Grito ter influenciado na escolha do título de uma palestra do Apostolado.

Importante ressaltar que o autor realiza tal registro em sua obra com base em documentos originais do Apostolado, presentes no Arquivo do Museu Imperial e no Instituto Histórico Geográfico Brasileiro. Como eu costumo dizer, quando se trata da relação entre história e maçonaria, entre nós maçons e os historiadores, fique com os historiadores.

SEXTA-FEIRA 13

Acredita-se que o estigma da sexta-feira 13 existe há séculos, mais precisamente desde o dia 13 de outubro de 1307, uma sexta-feira cuja noite foi tenebrosa. Foi quando os soldados do Rei Felipe IV da França, conhecido por Felipe, o Belo, invadiram as edificações francesas onde cavaleiros templários estavam repousando com ordens de prisão. Cientes de que os templários não desembainhariam suas espadas após suas orações noturnas, muito menos contra cristãos, o trabalho dos soldados fiéis ao rei não foi tão difícil. Milhares de cavaleiros foram presos, alguns mortos na tentativa de fuga, mas outros tantos conseguiram escapar, fugindo principalmente para Portugal e Escócia.

Porém, talvez aquela sexta-feira 13 não ficasse tão negativamente enraizada na memória das pessoas se o seu desfecho não fosse tão sombrio e marcante como foi. Desfecho esse ocorrido quase sete anos depois, numa segunda-feira, dia 18 de março de 1314.

Em observância a esses dois dias, que servem como cornucópias de lições desde então, apresento um trecho de texto publicado em 18 de Março de 2011 neste blog:

“O sol está se pondo e uma multidão se forma no pátio diante da Catedral. Apesar do fim do inverno, essa segunda-feira de primavera parece fria como nunca. As flores já brotaram, mas o vento corta como navalha.
– É uma pena que a fogueira fique tão distante de nós. Seria bom para me aquecer. – diz um mendigo de idade já avançada, ou talvez apenas castigado pela vida. 
– Acredite, você não agüentaria ficar perto do calor infernal e o cheiro de carne herege queimando. – responde um senhor com roupas um pouco melhores, um pouco mais limpo, mas com um destino não muito diferente da mendicância. Afinal, a França está falida e quase ninguém tem emprego.
Com o crepúsculo, os postes começam a ser acesos e o cheiro de óleo queimando é sentido no pátio. Sangue, óleo, fogo, suor, lixo, seus cheiros estão sempre misturados na não tão bela Paris do século XIV.
Soldados montados vão se aproximando e se posicionando, o que indica que o momento de mais uma execução está chegando. – Quem será dessa vez? – alguns se perguntam. As execuções sempre apresentam bom número de espectadores, mas essa tem superado as anteriores: nem sinal das autoridades e dos condenados e a Ilha da Cidade já está lotada. Isso porque todos esperam assistir a execução daquele que o povo considerava acima dos reis e abaixo apenas do Papa. O Grão-Mestre dos Templários, Jacques de Molay.
Já fazia 07 anos que ninguém o via, desde aquela escura sexta-feira 13 que o povo tratou de guardar como maldita. Uns diziam que ele havia morrido nas torturas da Santa Inquisição. Outros que ele conseguira fugir para a Escócia com tantos outros Cavaleiros. A única coisa que todos concordavam é que era impossível um homem com seus 70 anos de idade sobreviver por tanto tempo a tanto tormento. Esse era o motivo para tanta gente estar ali: ver a queda de um homem que liderava reis e que sobreviveu ao insuportável.”

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LEO TAXIL & A ANTIMAÇONARIA

LEO TAXIL & A ANTIMAÇONARIA

Marie Joseph Gabriel Antoine Jogand Pagès nasceu em Marselha, França, em 1854. Aos 25 anos de idade, ele resolveu adotar o pseudônimo de Leo Taxil e aproveitar o sentimento anti-católico que predominava na Europa na época para ganhar uma grana. Começou então a produzir panfletos e histórias pornográficas contra a Igreja Católica. Foi um sucesso. Com 27 anos, Leo Taxil ingressou em uma Loja Maçônica, mas logo foi expulso, ainda como Aprendiz. A expulsão deveu-se pelo mesmo ter sido condenado em processos de plágio.

Aparentemente irritado por ter sido expulso, e necessitando produzir conteúdos diferentes que evitassem os processos judiciais, Taxil não teve dúvidas em eleger uma nova vítima para seus ataques: a Maçonaria. Em 1885 ele “converteu-se” ao catolicismo começou a publicar seu conteúdo anti-maçônico: Os Irmãos Três-Pontos, O Anti-Cristo e a Origem da Maçonaria, O Culto do Grande Arquiteto, os Assassinos Maçônicos.

Não demorou para que Taxil se tornasse o queridinho da Igreja Católica, chegando ao ponto de ser convidado para uma audiência privada com o Papa Leão XII. Um bispo da Igreja nos EUA reportou-se ao Papa, denunciando as obras de Taxil como falsas. Porém, o Papa preferiu acreditar em Taxil do que em um de seus bispos. Por ironia do destino, sua velha inimiga e perseguidora passava a idolatrá-lo. O próprio Papa declarou-se seu fã e pediu por mais livros contra a Maçonaria. Uma situação no mínimo hilária, para não se dizer absurda.

Leo Taxil aproveitou que Albert Pike havia falecido em 1891, e por isso não poderia se defender, para nomeá-lo como uma espécie de “Papa Luciferiano”, Sumo Pontífice da Maçonaria Universal, a qual ele considerava 100% satânica. Taxil chegou a ponto de escrever que Pike reunia-se com Lúcifer toda sexta-feira, às 3h da tarde.

Após fazer muito dinheiro com suas obras antimaçônicas, contando com o apoio e, muitas vezes, até o patrocínio da Igreja Católica, Leo Taxil resolveu dar o seu “tapa de luva”. Em 19 de Abril de 1897, ele alugou um auditório em Paris e convidou os maiores intelectuais franceses da época para assistirem a coletiva de imprensa que ele iria realizar. Na presença de notáveis pensadores, de líderes católicos e da imprensa, Taxil soltou a bomba: tudo que ele havia escrito sobre a Maçonaria não passava de mentiras. Sua real intenção era mostrar como a Igreja Católica, que havia elegido ele como arqui-inimigo, era patética a ponto de passar a idolatrá-lo, e como o Santo Padre, o Papa em pessoa, de infalível não tinha nada. Além disso, ele queria ganhar um bom dinheiro à custa da Igreja e de seus fanáticos. Durante a coletiva, as gargalhadas dos intelectuais disputavam com os gritos de raivas dos líderes católicos. Sua confissão, de mais de 30 páginas, foi publicada nos principais jornais europeus da época.

Apesar de mais de 100 anos depois da confissão pública de suas mentiras, suas obras antimaçônicas continuam sendo citadas como referência em novas obras fanáticas e ignorantes que atacam a Maçonaria, até mesmo por integrantes da Igreja Católica, a qual foi publicamente ridicularizada por Taxil, o responsável por uma das maiores vergonhas que um Papa já passou.