Em uma pesquisa realizada em 2018 para a CMI, com mais de 12 mil maçons brasileiros de todos os Estados e DF, e das três vertentes maçônicas brasileiros, diagnosticou-se um problema sério, porém discreto na Maçonaria brasileira: o conflito de gerações.
Em um gráfico que mais parecia os sutiãs da Madona, via-se nitidamente as duas gerações: a dominante, de mais de 2/3 dos maçons brasileiros, de mais de 50 anos de idade, com concentração se aproximado dos 60 anos, majoritariamente educados pelo sistema tradicional de ensino, tendo parcela considerável com baixa escolaridade ou escolaridade tardia, e sem hábito de leitura; e a dos novos entrantes, de menos de 1/3 do povo maçônico, ingressos nos últimos anos, com menos de 50 anos, sendo a maioria com menos de 40 anos de idade, educados nos sistemas surgidos a partir das reformas educacionais iniciadas na década de 70, e melhor acesso acadêmico e literário.
A diferença sociocultural dessas duas gerações está intimamente ligada com a história mais recente do nosso país, desde o chamado “milagre econômico” da década de 70; a adoção de novos métodos pedagógicos no ensino fundamental, como Construtivista, Freiriano, Montessoriano, Piagetiano, na década de 80; até a maior flexibilização nas normas do Ensino Superior, gerando o boom de faculdades particulares, na década de 90.
Assim, tem-se uma geração de novos entrantes mais pragmática, crítica e questionadora, tanto sobre o que ouve quanto sobre o que lê, subordinada a uma geração dominante mais tradicionalista. E os resultados da pesquisa indicaram que essa geração dominante não vê com bons olhos a nova geração, acreditando que ingressam na Maçonaria apenas em busca de networking e benefícios, e que estão querendo inovar a Maçonaria e expô-la na internet e redes sociais.
Acontece que, enquanto há maioria de membros na geração dominante, que envelhece a cada dia, a nova geração concentra praticamente toda a evasão maçônica, o que dificulta a renovação dos quadros, que poderia garantir a manutenção das organizações maçônicas a longo prazo. E como agravante, há a institucionalização dessa opressão silenciosa. Como exemplo, há potências que criam regras que vetam os novos entrantes do direito a voz, apesar desses pagarem as mesmas taxas que qualquer outro membro.
Nesse contexto está a Ordem DeMolay, existente no país há mais de 40 anos, durante os quais foi copiosamente chamada pelas lideranças maçônicas de “o futuro da Maçonaria”. De fato, esse futuro está se tornando o presente, pois já se teve e tem alguns Grão-Mestres de Grandes Lojas oriundos da Ordem DeMolay: Cassiano na GLMDF, Alexandre na GLMET, Tadeu na GLMERGS, Hook na GLMERN. E há ainda outras boas promessas para a próxima safra.
Com um número cada vez mais crescente de DeMolays na Maçonaria, não é raro escutar depoimentos de que o DeMolay Sênior que é Maçom tem responsabilidade redobrada, pois qualquer comportamento questionável seu respinga maçonicamente também na Ordem DeMolay.
Para ilustrar, compartilho o que escutei no último sábado de uma liderança maçônica. O irmão contou de um maçom que é DeMolay Sênior e, ao escutar algo que não gostou em uma Câmara do Meio, retirou o avental da cintura e saiu da reunião. Com base nisso, sugeriu que talvez os DeMolays não possuem o perfil que se espera na Maçonaria.
Então, contei de um velho maçom que, enquanto presidia a sessão, irritou-se com um irmão sentado à coluna do sul e arremessou o malhete em sua direção. Esse velho maçom não era um DeMolay Sênior, mas um oficial das Forças Armadas. Por um acaso, caberia sugerir que talvez os militares não possuem o perfil que se espera na Maçonaria?
Há imbecis de todas as idades e em todas as áreas de atuação. O maior erro que podemos cometer é generalizar.
Por outro lado, há um comportamento comum entre alguns DeMolays Seniores que ingressam na Maçonaria, e que não colabora para a redução desse conflito: a PERCEPÇÃO DE TEMPO. A média de idade dos que ingressam na Ordem DeMolay é por volta dos 15 e 16 anos. Isso dá apenas cinco a seis “anos de vida” ao DeMolay Ativo, que se torna um Sênior aos 21 anos, não podendo mais ocupar cargos juvenis na organização. Então, aqueles jovens com perfis de liderança correm contra o tempo para alcançar os postos que almejam na organização.
Quando esses jovens, com seus vinte e poucos anos, ingressam na Maçonaria, eles provavelmente terão uns cinquenta “anos de vida” na instituição. São dez vezes mais do que a média de tempo ativo na Ordem DeMolay. Em outras palavras, o tempo na Maçonaria corre diferente do tempo na Ordem DeMolay. Contudo, são muitos os jovens que não conseguem virar essa chave, desejando manter na Maçonaria o mesmo ritmo de evolução nos cargos que foi vivenciado na Ordem DeMolay. E isso apenas gera ainda mais conflitos e alimenta ainda mais as generalizações.
Todas essas generalizações, de que DeMolay é isso e “bode velho” é aquilo, são reflexos desse conflito de gerações, e é exatamente o que precisamos combater por meio da educação de TODOS. A Tolerância é um dos principais pilares da Maçonaria Simbólica e talvez seja exatamente o que tem faltado em muitos irmãos. Como escola de moralidade que somos, temos a obrigação de ensinar essa importante lição. Nosso futuro depende disso.
Desde 2012 que
estudo e pesquiso sobre comportamento organizacional na Maçonaria. Tenho livros
e artigos publicados a respeito, além de lecionar o tema em nível de graduação
e pós-graduação. E uma das bandeiras que venho defendendo em todos esses anos é
da necessidade de se desenvolver e treinar novas lideranças para a Maçonaria.
A atual pandemia
e os reflexos do distanciamento social sobre as organizações maçônicas têm
imposto essa realidade e necessidade aos olhos de quem quiser ver. Nesse
sentido, lembro-me que, em minha adolescência, meu pai me dizia que é fácil ser
bom quando tudo está bem, mas que sabemos quem realmente é bom quando tudo está
mal.
Pesquisas
indicam que avaliações cognitivas e afetivas geram comportamentos. Isso parece
óbvio: você pensa, depois age. Mas, em alguns casos, ocorre o contrário: de
tanto agir de uma forma, mesmo encarando fatos irrefutáveis, você se obriga a
manter sua avaliação inicial, de forma a não contradizer suas ações. Por isso do
uso do termo “aos olhos de quem quiser ver”.
No meio
organizacional, adaptado à Maçonaria, algumas das avaliações e sentimentos
envolvidos são: a satisfação com a Maçonaria, o envolvimento com a Maçonaria e
o comprometimento com a Maçonaria. Este último possui três dimensões distintas:
o comprometimento afetivo, que é o vínculo emocional e com os valores da
Maçonaria; o comprometimento instrumental, que é a necessidade psicológica de
permanência; e o comprometimento normativo, que é a sensação de obrigação moral
de permanência.
Todas essas
avaliações e sentimentos são positiva e diretamente moderados pelas atividades
maçônicas e suas frequências. Assim, quanto mais frequente em atividades
maçônicas, maiores as chances de satisfação, envolvimento e comprometimento
afetivo, instrumental e normativo. Aqui, ressalta-se que há outras variáveis
impactantes nessa relação.
Estudos e
pesquisas indicam que o comprometimento afetivo está fortemente relacionado com
desempenho e não tanto com a permanência ou evasão, enquanto que o instrumental
baixo gera maior intenção de faltar e, consequentemente, se afastar.
Resumindo a
equação, a falta de reuniões e outras atividades maçônicas desencadeará em uma
redução da satisfação, do envolvimento e do comprometimento. E a consequência
disso será um maior absenteísmo e uma maior evasão quando do retorno dos
trabalhos maçônicos pós-pandemia.
E como frear
esse fenômeno? As organizações conseguem minimizar esses efeitos por meio da
Percepção de Suporte Organizacional (PSO) e da manutenção do engajamento dos
membros. A PSO é quando os membros percebem que a organização os valoriza,
apoia, e se preocupa com seu bem-estar.
Atividades que proporcionem a percepção de preocupação e cuidado para com os irmãos geram um aumento da PSO, bem como aquelas que proporcionem a manutenção de contatos e interações, mesmo que virtuais, retém o engajamento. Com isso, pode-se manter níveis esperados de satisfação, envolvimento e comprometimento, reduzindo as chances de absenteísmo e evasão.
Gestores maçônicos que proporcionam ações intelectualmente estimulantes, condições de apoio e oferta de ajuda, proporcionarão maior satisfação e envolvimento, levando à renovação do comprometimento.
É agora, “quando tudo está mal”, que veremos “quem realmente é bom”.
Outro dia recebi
a última edição da Journal of the Masonic
Society, que continha, dentre outras coisas interessantes, um artigo de
Thomas Jackson. Para quem não sabe, Thomas Jackson é o que podemos chamar de
uma lenda viva da Maçonaria no mundo, tendo estado por 16 anos à frente da
Conferência Mundial de Grandes Lojas Regulares. Segue alguns trechos de seu
artigo que considero importante compartilhar:
Não há um fator sobre o qual culpar o declínio contínuo do interesse pela Maçonaria na América do Norte, mas não há dúvida de que a falta de um compromisso educacional seja um fator importante. Como podemos esperar que exista um interesse em uma organização em que tão poucos membros sabem o que somos ou nosso propósito? (…)
Não consigo me convencer de que os maçons de hoje são menos capazes do que nossos irmãos do passado, mas somos definitivamente mais ignorantes; mais ignorantes do nosso passado, mais ignorantes do nosso presente e certamente mais ignorantes do nosso propósito. Se é verdade que nossos irmãos dos dias atuais são tão capazes quanto os irmãos do passado, a falta de educação maçônica deve ser a causa raiz de um interesse em declínio, e a responsabilidade por esse fracasso está nos pés das lideranças da Maçonaria Simbólica. (…)
Não podemos mais escolher por viver da glória do nosso passado. Não podemos mais ter nossa sobrevivência dependente das alegações de quão grandes éramos e apontarmos com orgulho a grandeza de nossos irmãos passados. Agora devemos decidir o que queremos ser. Se desejamos ser uma organização que será lembrada na história como uma que contribuiu para a grandeza da América, mas que desapareceu digna de poucas notas, basta continuarmos o caminho que estamos trilhando hoje. Se desejamos continuar a herança que nos foi concedida por nossos irmãos anteriores, devemos tomar a decisão de que nossos membros atuais merecem essa herança e desenvolver programas pelos quais os educamos. (…)
Atualmente, há jovens demonstrando interesse e buscando muito mais do que estamos oferecendo. Eles estão em busca de algo que a sociedade não está fornecendo-lhes. Eles estão procurando por uma organização de qualidade muito acima da mediocridade da sociedade atual. Eles estão procurando conhecimento e um sistema que os forneça isso. Eles sabem mais sobre a Maçonaria antes de solicitarem ingresso em uma Loja do que qualquer um de seus antecessores. O que sabem, no entanto, é o que eles aprenderam sobre a Maçonaria do passado. Agora cabe a nós fornecer a eles aquilo que eles procuram. Cada um deles e cada um de nós deseja ser afiliado a uma organização de qualidade e é isso que a Maçonaria deve ser. (…)
Provavelmente, expressei muito claramente minha opinião sobre o tema da educação maçônica. Este mundo realmente precisa de uma organização alicerçada sobre uma base dos propósitos filosóficos da Maçonaria. Se somos merecedores de nossa herança, devemos empreender um programa de educação de nós mesmos e de nossos membros. O legado de nossos irmãos passados merece esse respeito, e o respeito dado à Maçonaria será proporcional às exigências educacionais da Maçonaria (JACKSON, Thomas. Masonic Education: Looking to the Future. The Journal of The Masonic Society, Issue 40, Spring 2020).
Agora, se
trocarmos América do Norte por Brasil nessas palavras, você estranharia? Quão
distante esse cenário está de nossa realidade? Nossos irmãos não sabem o que realmente
é a Maçonaria e qual o seu propósito? Vivemos da glória do passado? Nossas
reuniões estão rasas e frustrantes demais para a nova geração?
O que o feeling de Thomas Jackson diagnosticou nos Estados Unidos é o mesmo que a pesquisa feita a pedido da CMI, em 2018, diagnosticou no Brasil: Há uma deficiência na educação maçônica brasileira, que tem gerado uma série de problemas para nossas organizações maçônicas e, se não bastasse, também tem gerado a significante evasão maçônica entre os mais jovens, cujo nível de exigência e expectativas por conhecimento não tem sido alcançado. E, sem os jovens, o futuro de nossa Maçonaria estará comprometido.
Como muito
bem observado no artigo citado, somente por meio do desenvolvimento de
programas sólidos de Educação Maçônica em larga escala poderemos solucionar
esses problemas. E os pilares da Educação são: Pesquisa, Ensino e Extensão. Ou
seja, precisamos pesquisar mais, produzir mais conteúdo (primário e
secundário), ensinar mais, e criar ferramentas de aplicação desses
ensinamentos.
Algumas
iniciativas vêm surgindo nos últimos anos no Brasil, como Ciência &
Maçonaria, Escola No Esquadro, UniAcácia, Biblioteca Digital da CMSB e a
UniCMSB; e têm dado suas contribuições em prol da Educação Maçônica no Brasil,
graças a irmãos cientes de tal responsabilidade e que estão fazendo sua parte. E você, está fazendo a sua?
Foi notícia maçônica e não-maçônica a investidura de Mourão, Vice-Presidente da República, ao 33º grau do Rito Escocês Antigo e Aceito, pelo Supremo Conselho de Jacarepaguá (SC33), único no Brasil reconhecido mundialmente.
Mourão, Mestre Maçom (3º grau) regular no Grande Oriente do
Rio Grande do Sul (COMAB), foi avançado do 4º ao 32º graus em uma tarde de
sábado, na Grande Inspetoria Litúrgica do Distrito Federal, e alguns dias depois
foi investido no 33º grau em evento ocorrido em Ijuí – RS, conduzido pelo SC33.
Assim, galgou os 30 altos graus do Rito Escocês em menos de um mês, o que,
observando os interstícios regulamentares, levaria, pelo menos, seis anos.
A quebra dos interstícios foi concedida pelo Soberano Grande
Comendador, Irmão Jorge Lins, utilizando-se de prerrogativa estatutária
existente há mais de uma centena de anos. Tal notícia gerou uma série de
manifestações de irmãos, em especial em redes sociais, criticando a decisão do
Soberano Grande Comendador em permitir tal quebra de interstício, mesmo que
legalmente embasada.
Muitas manifestações repetem, em outras palavras, os mesmos
argumentos. Segue trechos de alguns comentários reais: “não me foi dada nenhuma
ajudinha para chegar onde cheguei”, “desvalorização de quem está nas fileiras
há anos cumprindo todas as exigências para alcançar o grau máximo”, “luz
demais, para quem não está preparado, pode cegar”, “nossa turma tem mais de 5
anos e só agora chegou ao 32 e vai passar pelo menos um ano para chegar ao 33 e
já teve irmão que chegou ao 33 em uma semana”, “todos iguais… mas nem tanto”,
“injusto com o maçom médio”, etc.
Credita-se a Freud uma frase que diz “Quando Pedro me fala de Paulo, sei mais de Pedro do que de Paulo”. Ao falarem da escalada maçônica de Mourão, os irmãos revelam algo sobre si mesmos: a dissonância cognitiva.
A dissonância cognitiva, em um de seus diferentes espectros,
consiste naquela sensação de desconforto que tem-se pelo fato de alguém ter
aparentemente sido mais beneficiado com menor ou igual esforço ao seu.
Um exemplo claro é a famosa parábola bíblica da vinha: Um
senhor busca trabalhadores para sua vinha em diferentes horários do dia,
combinando que pagaria um denário pelo serviço. Assim, uns trabalham o dia
inteiro e outros menos, até aqueles que trabalharam apenas 01 hora… e ao
final do dia, o senhor pede que todos formem uma fila para receberem seus
pagamentos, começando pelos que chegaram por último. Quando os que chegaram
primeiro e trabalharam o dia inteiro (ao final da fila) viram que os que
chegaram por último e trabalharam apenas uma hora (no início da fila) estavam
recebendo um denário, julgaram que receberiam mais do que isso, por terem
trabalhado muito mais. Entretanto, receberam o mesmo valor e ficaram indignados
com o senhor, que argumentou que havia combinado o valor com eles antes do
serviço, e eles tinham aceitado.
Aqueles trabalhadores da primeira hora haviam ficado deveras
satisfeitos em conseguir um serviço que lhes garantisse um pagamento ao qual
concordaram antecipadamente. Mas eles não demoraram a irritar-se e questionar o
acordado com o senhor ao perceberem que outros haviam feito acordo aparentemente
melhor. É o mesmo comportamento de uma criança que chora porque a bola de
sorvete de seu irmão aparenta ser maior que a sua. Ou de uma mulher que se
irrita ao ver em uma vitrine que aquele vestido que ela comprou na semana anterior,
achando que tinha feito um ótimo negócio, está ainda mais barato (e foi
comprado mais barato por outra mulher). Esse sentimento vil é comum a muitos
homens, até mesmo maçons.
Os reclamantes, adeptos dos Altos Graus, têm conhecimento da legalidade da decisão e nenhum deles foi prejudicado ou mesmo afetado pela mesma. Eles não sofreram atrasos na evolução dos graus ou foram sobretaxados por isso. Ainda, não se vê reclamações dos mesmos quanto aos interstícios que eles seguem e as taxas que eles pagam, até porque concordaram com essas questões antes de ingressar. O que incomoda é que aquele outro, que chegou “na undécima hora” foi feito igual a eles, que suportaram o peso dos interstícios e o calor das taxas. Mesmo quando o “outro” é o Vice-Presidente da República. Mesmo quando sua projeção maçônica pode auxiliar na imagem da Maçonaria perante a sociedade.
Não importa se a grama do vizinho é mais verde. Ela é do vizinho, não sua. Não seja mesquinho. Não compare. Cuide de sua vida e faça o seu melhor, sempre. Se você está cursando os Altos Graus, já deveria ter aprendido isso.
A ciência da administração tem alertado, há mais de meio século, sobre o ciclo de vida das organizações. Uma organização é como um organismo vivo, que nasce, cresce alcança seu ápice, e então começa a envelhecer até que, enfim, morre. Entretanto, no caso das organizações, sua morte é como a da mitológica fênix, que pode renascer de suas próprias cinzas, começando assim um novo ciclo de vida.
O que muitas organizações buscam atualmente é “surfar” o máximo de tempo possível a onda da maturidade organizacional, ou seja, a crista de seu ápice. Já o diagnóstico de envelhecimento (decadência) é simples: ela começa a se preocupar mais com seu patrimônio do que com o mercado e clientes; perde o empreendedorismo e o pioneirismo no setor; afunda-se em burocracia e passa a ter dificuldade de “manobra”; tem excesso de confiança em si mesma em comparação aos seus pares; torna-se prepotente.
Após a fase da velhice, têm-se os primeiros sinais de morte iminente: mudanças drásticas de diretoria, perda de espaço no mercado, esfriamento das relações com os pares, rupturas, cisões, etc. E de quem é a culpa da morte? Das lideranças, seja por imperícia, negligência ou até mesmo “maus tratos”.
O GOB, como qualquer outra organização, tem seu ciclo de vida que, ao que tudo indica, dura aproximadamente 44 anos. Ao recorrer à história maçônica brasileira, sabe-se que o GOB, em seu formato atual, é resultado de uma fusão do Grande Oriente dos Beneditinos com o Grande Oriente do Lavradio, ocorrida em 1883, por pressão (ou incentivo, se preferir) do Grande Oriente Lusitano. Exatos 44 anos depois, em 1927, tem início o processo de falecimento, com o desligamento do Supremo Conselho do REAA e a consequente grande cisão que deu origem às Grandes Lojas, tendo o “óbito” sido emitido em 1929, no Congresso Mundial de Supremos Conselhos, ocorrido naquele ano em Paris.
Então, o GOB renasceu e iniciou um novo ciclo de vida, que findou exatos 44 anos depois, em 1973, após um processo eleitoral extremamente questionável, pelo qual o candidato de situação, Osmane Vieira de Resende, “ganhou no tapetão” contra o de oposição, Athos Vieira de Andrade, que era de MG e contava com o apoio de SP e de outros grandes colégios eleitorais. Nessa segunda grande cisão, nove Grandes Orientes Estaduais e o do DF se desligaram do GOB, dando origem à COMAB.
Mais uma vez o GOB conseguiu renascer, se reinventando e promovendo as mudanças que seus líderes entenderam como necessárias para o novo ciclo de vida. Até que, 44 anos depois, em 2017, a onda de suspensões e intervenções em Grandes Orientes Estaduais teve início, como em MG e no RS, principiando um novo processo de falecimento, que se arrastou até este ano de 2018, com mais suspensões, intervenções (CE e PE) e um turbulento processo eleitoral, o que culminou no já esperado óbito, ilustrado numa eleição de chapa única com baixa adesão e apoio, e na “desfederalização” (declaração de independência) de dois Grandes Orientes Estaduais: PE e SP.
Agora, cabe aos novos líderes do GOB tomar as medidas necessárias para garantir a “reciclagem”, o renascimento dessa grande fênix… Agora, imagine se, em vez de apenas renascer, uma fênix pudesse também evoluir e não repetir os mesmos erros do passado, prolongando assim seu ciclo de vida? Se ela não precisasse renascer já “velha”, burocrática, engessada e prepotente? Não seria ótimo?
As Lojas Acadêmicas ou Universitárias floresceram no Brasil a partir da segunda metade da década de 90, ganhando maior impulso nos primeiros anos deste século XXI, por incentivo do GOB, em busca de um rejuvenescimento de seu quadro. Mas, ao contrário do que muitos irmãos brasileiros imaginam, as Lojas Universitárias não são uma invenção recente, algum tipo de modismo, e nem exclusividade do GOB.
O Eminente Irmão Lucas Francisco Galdeano, autor do primeiro trabalho sério que tenho conhecimento sobre o assunto no Brasil, relata a existência de Lojas Universitárias na Inglaterra desde o Século XVIII e da presença das mesmas em diversos países anglófonos. Seu trabalho pode ser acessado clicando aqui.
Por sinal, a Grande Loja Unida da Inglaterra, após realizar uma série de estudos e pesquisas internas, tem, nos últimos anos, acendido o alarme da necessidade de renovação de seus quadros, e focado, principalmente, em um programa chamado “Programa Universidades”, que já existe há mais de 10 anos e possui até website próprio.
O objetivo geral dessas Lojas é fomentar o ingresso de jovens com intelecto e potencial na Maçonaria. Infelizmente, no Brasil, muitas Lojas foram fundadas como Universitárias para usufruir dos benefícios oferecidos a esse tipo de Loja, migrando para a classificação comum de Loja após um certo período de tempo. Outras mantém o status de Universitárias apenas no nome, não contando com um único estudante universitário em seu quadro. Essas ocorrências têm gerado certo preconceito em membros da ala mais conservadora da Ordem pelas Lojas Acadêmicas/Universitárias.
Além disso, o fato de, no Brasil, as Lojas Universitárias terem sido uma iniciativa do GOB, acabou restringindo suas fundações a esse âmbito. É o velho preconceito velado que temos na Maçonaria brasileira, que ninguém fala a respeito. Temos muitos exemplos disso, de ambos os lados… o Supremo Conselho do Grau 33 (Jacarepaguá) é chamado de Supremo Conselho “das Grandes Lojas”, mesmo aceitando membros do GOB e da COMAB. E a Ordem DeMolay sofre o mesmo preconceito no meio gobiano, pela mesma razão. Porém, acredito que esse preconceito velado vai diminuindo com a renovação da maçonaria brasileira, contando cada dia mais com uma massa maçônica mais esclarecida, que compreende que algumas iniciativas, programas e organizações são “suprapotências”.
No caso da Maçonaria da América do Norte, há alguns anos foi criado o Comitê de Renovação Maçônica do Canadá, Estados Unidos e México, cujo objetivo é exatamente a organização, divulgação e suporte de iniciativas para renovar a Maçonaria naquela região. E uma dessas iniciativas promovidas pela comissão é o Programa de Lojas Acadêmicas.
Uma das Grandes Lojas norte-americanas que tem abraçado essa ideia é a Grande Loja do Estado de New York, uma grande parceira do Brasil, que inclusive cedeu seus rituais do Rito de York para tradução e prática no território brasileiro, e estará realizando uma Convenção Internacional de ritualística ao final deste mês de janeiro, com tradução para várias línguas e com a participação das obediências de diversos países que trabalham com seu ritual, incluindo muitas brasileiras.
A Grande Loja do Estado de New York criou uma “Comissão pela Fraternidade no Campus”, presidida por ninguém menos do que Ted Harrison, Past Grande Sumo Sacerdote Internacional do Real Arco Internacional e grande entusiasta do Rito de York no Brasil. Sob a liderança do Ted, duas Lojas Acadêmicas estão sendo criadas em New York: a “Columbia”, para atender a comunidade da Columbia University; e a “Illumination” para a comunidade da City University of New York (CUNY).
Enquanto a Grande Loja Unida da Inglaterra, com seu Programa Universidades, já conta com 72 Lojas Acadêmicas, o Comitê de Renovação Maçônica da América do Norte tem começado a apresentar resultados recentemente, já contando com algumas em pleno funcionamento:
Loja “Harvard”, Cambridge MA
Loja “Boston University”, Boston MA
Loja “The Colonial” # 1821, George Washington University, DC
Loja “The Patriot” # 1957, George Mason University, Virginia
Loja “State College” # 770, North Carolina State University, NC
Loja “Terrapin” # 241, University of Maryland
Loja “A Águia” # 1893, American University, DC
Mas não precisamos esperar que nossa média de idade torne-se ainda mais geriátrica ou nossos números de membros despenquem, como nos EUA e na Inglaterra, para agirmos. Esperamos que todas as nossas obediências, sem exceção, atentem-se para a iminente necessidade de renovação dos quadros da maçonaria brasileira, desenvolvendo formas para que isso seja possível, fomentando o ingresso, especialmente, de Seniores DeMolays e universitários.