A(S) MAÇONARIA(S) PAULISTA(S)

A(S) MAÇONARIA(S) PAULISTA(S)

 

 

 

São Paulo, a “locomotiva do Brasil”, é a maior jurisdição maçônica do Brasil, somando quase 1/5 de todos os maçons do país. Nesse contexto, conforme a alegoria da Espada de Dâmocles, grandes poderes geram grandes inseguranças e atraem grandes riscos. Talvez seja por isso que os maçons paulistas vivenciaram o surgimento de nove obediências e potências originadas do eixo regular ao longo dos séculos XIX e XX.

 


Compreender as motivações que levaram a seus surgimentos e as relações significativas de impacto de umas sobre as outras é importante para um melhor entendimento acerca do caminho percorrido, que resultou no cenário atual, permitindo melhores posicionamentos frente ao pressuposto de repetição histórica.

 

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Palestra na Loja “LIBERDADE E UNIÃO”

Palestra na Loja “LIBERDADE E UNIÃO”

 

Na última terça-feira, 03/12/2024, estive no Oriente de Goiânia, capital de Goiás, para ministrar palestra na histórica Loja “Liberdade e União” #1158, jurisdicionada ao GOB-GO, pioneira em Goiânia. Essa loja realiza há décadas importantes programas sociais, dentre os quais destaco o investimento em educação fundamental gratuita de qualidade para centenas de crianças, por meio do Colégio “Gonçalves Lêdo”.

O prazer foi ainda maior por contar com a presença do Grão-Mestre do GOB-GO, Irmão Ari de Oliveira; do Grão-Mestre da Grande Loja Maçônica do Estado de Goiás – GLEG, Irmão Mário Martins; do Grão-Mestre Adjunto do GOB-GO, Irmão Alex Wallace; do Grão-Mestre Adjunto da GLEG, Irmão Marco Antônio Barbosa de Farias; e de mais de 200 outros irmãos.

Dos irmãos presentes, 101 deles são da GLEG, que estavam ali, visitando uma loja do GOB-GO, em plena terça-feira. Esse é o tipo de experiência de fraternidade e engajamento maçônico que não vemos em qualquer lugar! Agradeço ao Irmão Gilberto Hamu, pela oportunidade; e ao Irmão Sérgio Renato Duarte, por todo o apoio concedido.

A CONQUISTA DA LIBERDADE

A CONQUISTA DA LIBERDADE

Em dezembro de 2023, foi publicada a matéria “Sobre fatos e tratados”, que desmentia o Ato 22.732, do Supremo Conselho de São Cristóvão, no qual dizia que o GOB puniria seus membros que buscassem filiação a outro Supremo Conselho do REAA. São Cristóvão usava como argumento um trecho de um tratado extinto com o GOB, de 1965, que inexiste no tratado em vigor, de 2007.

Na época, analisei que:

sinceramente, duvido que o GOB, tão legalista, cometeria tal abuso, propositalmente excluído no Tratado de 2007, que é o que está em vigor. Com as 27 Grandes Lojas e a maioria dos Grandes Orientes da COMAB reconhecendo Jacarepaguá, não há porque o GOB, importante baluarte da união da Maçonaria Regular brasileira, cometer abusos e ilegalidades apenas para saciar o desejo inquisidor de uma única autoridade de São Cristóvão.

Então, não demorou a surgir um caso de irmãos gobianos do interior de Minas Gerais que migraram de São Cristóvão para Jacarepaguá e foram denunciados ao Ministério Público Federal Maçônico do GOB, gerando o processo 815/2023. Assim, essa minha análise seria, de fato, posta à prova.

Eis que, no dia 13/09/2024, o Supremo Tribunal Federal Maçônico do GOB se reuniu em sessão para julgamento. Os ministros, após a manifestação preliminar do procurador do MPFM, consideraram que: a denúncia “já nasceu morta”; a Constituição brasileira, em seu artigo 5º, garante que “é plena a liberdade de associação” e que “ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a permanecer associado”; a alçada do GOB, incluindo seu STFM, está restrita aos graus simbólicos; e o desejo de irmãos gobianos em pertencer ao Supremo Conselho de Jacarepaguá deve ser respeitado.

Assim, decidiram, por unanimidade, rejeitar a denúncia e extinguir o processo.

Parabéns ao Judiciário do GOB pela postura e decisão. Agora, mais do que nunca, os irmãos do GOB têm total liberdade para participarem do Supremo Conselho de Jacarepaguá: regular, reconhecido internacionalmente, com assento na Conferência Mundial de Supremos Conselhos, o maior do Brasil e o terceiro maior do mundo.

CMSB dá importante passo rumo à inclusão

CMSB dá importante passo rumo à inclusão

Quem acompanha este blog há mais tempo sabe que faz dez anos que chamo a atenção para a questão da inclusão de PCD na Maçonaria brasileira. Então, podem imaginar minha alegria a cada passo que damos nessa direção.

(Mas se você é daqueles que não sabem nem do que se trata, recomendo que, antes, leia este post antigo aqui do blog: https://www.noesquadro.com.br/conceitos/deficientes-fisicos-na-maconaria-brasileira-um-antigo-tabu/)

O fato é que, nesses dez anos, apesar de alguns autores também terem escrito a respeito e termos notícias de casos isolados em que candidatos com alguma deficiência física leve foram aceitos; ainda acompanhamos espantados manifestações medievais de irmãos condenando a indicação de candidatos cegos, cadeirantes, etc.

Como sabemos, as potências regulares brasileiras não têm explícito em suas constituições qualquer tipo de veto ao ingresso de PCD na Maçonaria. Contudo, todas têm, em suas legislações, a menção à observância dos “antigos Landmarks”. E, historicamente, esses Landmarks referem-se aos 25 Landmarks de Mackey, cujo 18º preconiza que os candidatos devem ser isentos de defeitos físicos e um aleijado não pode ingressar na Fraternidade.

Assim, a cultura maçônica brasileira, que difunde a falsa ideia de que esses Landmarks são universais e imutáveis, leva à discriminação por muitos irmãos, que utilizam do anonimato proporcionado pelo modelo de escrutínio secreto para garantir o veto a possíveis candidatos PCD.  

O primeiro passo para quebrar esse paradigma foi do Grande Oriente do Brasil – GOB. Em 06/12/2019, o Conselho Federal do GOB deliberou favoravelmente à aceitação de candidatos com deficiência, o que, de certa forma, sinalizaria ao povo gobiano que tivesse contato com tal decisão de que a deficiência não poderia ser vista como um empecilho.

Já em julho de 2023, em Porto Velho, durante a 52ª Assembleia Geral Ordinária da CMSB – Confederação da Maçonaria Simbólica do Brasil, a Grande Loja do Pará (se não me engano) propôs a temática da Maçonaria Inclusiva, a qual foi aprovada. Como resultado, a CMSB promoveu seu IV Concurso Literário com esse tema e, à luz dos estudos feitos a respeito, a questão foi mais profundamente discutida na 53ª Assembleia Geral da CMSB, em julho de 2024, em Recife.

Dali, surgiu uma Interpretação do 18º Landmark de Mackey, aprovada por unanimidade no Seminário de Relações Exteriores dessa Assembleia, que poderá melhor instruir o povo maçônico das Grandes Lojas sobre a questão:

“É importante reconhecer que o contexto social e as normas mudaram significativamente desde a época em que o XVIII Landmark foi escrito. Naquela época, pessoas com deficiências físicas eram frequentemente excluídas da sociedade e, consequentemente, da Maçonaria, com base em preconceitos e estigmas. Hoje, vivemos em uma sociedade mais inclusiva, onde as pessoas com deficiência têm plenas condições de exercer sua cidadania, seja trabalhando, gerando seu sustento e participando ativamente em diferentes esferas da vida. Portanto, entende-se ser fundamental a reinterpretação do termo “aleijado” à luz dessas mudanças, ou seja, sob uma ótica social e não sob o aspecto físico.”

Desse modo, fica claro que não se está abolindo ou modificando qualquer Landmark, mas apenas oferecendo uma interpretação atual, considerando a intenção do legislador, Albert Mackey, no século XIX. Apenas deficiências que impeçam um candidato de se fazer presente às atividades maçônicas, bem como de arcar com as despesas da Ordem sem prejudicar seu sustento, devem ser consideradas.

Agora, o desafio é difundir esse entendimento, conforme a sabedoria de cada gestor maçônico.

O EFEITO GOSP

O EFEITO GOSP

Há cinco anos, experimentamos no meio maçônico brasileiro algo que vem sendo chamado de União da Maçonaria Regular brasileira. Nesse período, os conflitos entre potências simbólicas, daqueles que geravam rompimento de relações, proibição de visitação e similares, foi inibido ao máximo, com raras exceções.

Mas na Maçonaria brasileira, de tédio não morremos. Às vezes, tem-se ruídos envolvendo potência simbólica e ordens como DeMolay, Filhas de Jó, Garotas do Arco-Íris ou Estrela do Oriente. Vez ou outra, há problemas de potência simbólica com as chamadas “oficinas-chefe” de ritos. E ainda, esporadicamente, há desgastes entre uma potência e a confederação ou federação da qual faz parte. É certo, como 1+1=2, que em seu Estado já teve, tem ou terá um desses problemas.

Assim, fica claro que a união, de fato, da Maçonaria regular brasileira é igual pipoca no cinema: todo mundo quer, mas não é prioridade pra ninguém. Além disso, está mais do que comprovado que essa união surgiu em nível nacional, não de uma amizade fraterna e crescente entre as lideranças, mas de uma necessidade emergencial, que foi a separação entre GOSP e GOB. O fim da perseguição aos Grandes Orientes da COMAB, perpetrado entre 2014 e 2018, e a nova cláusula dos tratados firmados pelo GOB a partir de então, confirmam isso.

O problema é a visão de que o conflito GOB x GOSP é um problema dos outros, restrito apenas à Maçonaria Paulista. É como estar sentado numa ponta do barco vendo a outra ponta afundar e pensar que não tem nada com isso. Esse é um problema de toda a Maçonaria regular brasileira.

Por que? Simplesmente porque a Maçonaria é baseada em princípios, sendo que um dos principais é o direito à visitação. Sem poder usufruir desse direito, poucos são os maçons e lojas que suportam. Não por acaso, tem-se um histórico de que grande parcela de lojas e irmãos que aderem a uma cisão, retornam nos dois primeiros anos. O medo do isolamento sempre foi a âncora que freou muitas cisões ou trouxe muitos dissidentes de volta.

E isso também ocorreu com o GOSP: muitos irmãos e lojas retornaram ao seio do GOB, ou foram para a GLESP ou para o GOP. E entre os que ficaram, escuta-se reclamações da falta de fraternidade de lojas dessas outras potências, ao fecharem suas portas para eles. Até já se esqueceram de que, entre 2014 e 2018, enquanto ainda eram parte do GOB, algumas de suas lojas fechavam as portas aos irmãos do GOP. O mundo maçônico também dá voltas… É a lei da ação e reação: as lojas do GOSP que naquele período não se submeteram ao veto, que visitavam e recebiam visitas das lojas do GOP, provavelmente sofrem menos hoje do que aquelas que vestiram o perigoso avental da superioridade.  

O negócio é que o GOSP é grande e, mesmo com as perdas, continuou consideravelmente grande. Não se pode ignorar o fato de que São Paulo é o maior estado brasileiro em população, além de principal centro financeiro e corporativo do país. É difícil encontrar alguém que nunca foi a São Paulo, que não tenha um amigo ou parente lá, ou que não tenha que ir a São Paulo a trabalho.

Por isso, para as potências que surgem de novas cisões, a existência de um GOSP dissonante da Maçonaria Regular Brasileira rompe a corrente dessa âncora, derrubando a barreira de isolamento. Os descontentes de uma potência num estado qualquer, que pensariam três vezes antes de fazer uma cisão, por medo de ficarem isolados, já não têm mais esse medo. E essas “melhores condições” para dissidências têm apresentado seus primeiros resultados.

Enquanto GOB-SP, GLESP e GOP se uniram e se blindaram, fechando suas portas ao GOSP… o GOSP abriu uma janela. E essa janela é para fora de SP, onde se tem, em algumas localidades, uma frágil união e um terreno fértil para cisões, com um GOSP esperando para reconhecê-las. E assim, os não-reconhecidos passam a se reconhecerem, reduzindo aquela sensação de ostracismo em seus membros.

Sendo um efeito já experimentado em alguns estados, e que pode alcançar outros, deveríamos priorizar, pelo menos temporariamente, uma dieta da pipoca: os grandes players poderiam começar a pensar na possibilidade de conversar sobre o assunto.

Acha exagero? Nem na época em que não havia “união”, havia tanta cisão! Isso porque, quando as três vertentes não se davam tão bem, os dissidentes de uma simplesmente migravam para outra. Agora, com a “união”, portas foram fechadas, e criar uma nova potência, alinhada ao GOSP e o novo bloco que se forma a partir dele, parece algo mais fácil e menos traumático.

Então, a união leva à cisão??? A verdadeira união, não… mas quando criada pela razão errada, pode causar. Uma ponte construída, não para aproximar as partes, mas para que uma parte more embaixo dela, não é um meio de união, mas de divisão.

E é chato dizer, mas isso merece mais atenção do Brasil do que o Paraguai.